O novo jeito de analisar o futebol. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

A extraordinária, Rita Lee, há muito nos alertou que: “Somos mutantes!”. Tudo muda, o tempo todo. No futebol não poderia ser diferente. Em tempos de chuteiras coloridas, até as óticas pelas quais estão sendo analisados os jogos, são diferentes. Já não vemos mais daquelas crônicas que eram verdadeiras pérola literárias. Saudade dos textos de Nelson Rodrigues, João Saldanha, Solange Bibas, Ney Bianchi, Oldemário Touguinhó, Adonias de Moura, Fernando Menezes, Geraldo Romualdo, Armando Nogueira…

Nos dias de hoje, os números explicam tudo, como se o futebol fosse uma ciência exata, tal qual a matemática, e o pragmatismo dos “professores” dói na alma. Time tal teve tanto de posse de bola; aconteceram tantos escanteios para o time B; o goleiro lançou N bolas para o jogador que avança pelo lado direito, mas deveria ter alternado porque o atacante da esquerda é mais agudo, e por aí vai. E o ex-jogador, tratado como a maior sumidade, pela emissora que o transformou em comentarista, ressalta a beleza incontida em cada gesto: “É um belo jogador; uma bela jogada; foi um belo lance…”. A vida é mesmo bela!

Os campos de futebol no Brasil têm solos férteis. Craques brotam em todas as regiões, mas como acontecem com as plantas, são exportados ainda na condição de brotos. Viçosos, vão alimentar o mercado europeu, cobiçado por nove entre dez profissionais.

Os craques vão, mas voltam. Um regresso mais seguro do que o prometido pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a sua amada Rosinha, no “hino”, Aza Branca.

A marcha regresso nem sempre faz sucesso, mas a torcida do Sport está apostando todas as fichas na recomposição da dupla – Diego Souza e Vagner Love – que no início do século foi destaque com a camisa do Palmeiras. Bom! Só o tempo dirá se vale a pena ver de novo. Afinal, não se analisa desempenho no pressuposto. O fato tem que acontecer.

Apesar do pragmatismo, os números também são flexíveis, seguem o ritmo do desempenho. Em determinado momento da disputa, do primeiro turno da Série B, o Sport chegou a ter 98% de probabilidade de acesso. Os leoninos encerraram o primeiro turno com 84,7% de chance. Um percentual por demais expressivo.

A diferença do nono colocado, o Botafogo/SP, para o quarto colocado, o Sport, são cinco pontos, que podem ser buscados numa sequência de duas vitórias. Como faltam 19 rodadas, este é um desafio que não chega a assustar. O equilíbrio que foi estabelecido na disputa pode elevar o ponto de corte para 70 pontos. Normalmente os clubes trabalham em cima de 19 vitórias e 8 empates, que lhes garantem 65 pontos.

O Sport fechou o primeiro turno com 10 vitórias e 5 empates. Caso repita o feito no returno, fechará a conta com 20 vitórias e 10 empates, ou seja, precisos 70 pontos. Aí, segundo os matemáticos de plantão, é só correr para o abraço.

Dentro deste contexto, tirar nota dez na execução do dever de casa passou a ser uma necessidade imperiosa para aprovação. O primeiro desafio é vencer o CRB, na noite deste sexta-feira, na Ilha do Retiro. O time alagoano não é um candidato ao acesso, mas tem que ser respeitado como um complicador.

Na condição de cronista esportivo, convivi com excelentes jogadores; com profissionais medianos e com pernas de pau. Confesso que nunca vi nenhum deles preocupados com números. Certa vez, o notável Ênio Andrade, um dos melhores treinadores dentre os que tive oportunidade de acompanhar o trabalho no dia a dia, me repassou o seguinte ensinamento:

O Sport havia acabado de empatar um jogo em Salvador. Depois do jantar, cheguei junto do Ênio e lhe disse: matematicamente ainda temos chance.

Ele olhou para mim, deu um gole no whisky, e disparou:

“Garoto preste atenção! Todas as vezes que, vocês da imprensa começam a dizer, matematicamente tem chance, é porque a vaca já foi para o brejo”.

O mestre Ênio sabia das coisas como poucos.