Carlos Newton
Reportagem de Henrique Lessa no Correio Braziliense mostra que o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, está engrossando o rol de inimigos da Lava Jato que tentam destruir o que ainda resta da operação e cassar o senador Sérgio Moro (União-PR). Neste domingo, o repórter revela que o presidente do TCU pedirá ao Supremo cópias dos diálogos em que Deltan Dallagnol, como procurador federal, combinava organizar ataques contra ele.
A articulação teria acontecido há cinco anos, quando Bruno Dantas reclamou, em uma entrevista, que o então juiz da Lava-Jato, o hoje senador Sérgio Moro, estaria restringindo o acesso do TCU às provas de delatores que fecharam acordo com a operação.
INCESTO NA LAVA JATO – “Pedirei ao STF cópia de todos os diálogos para avaliar providências legais. Se forem verdadeiros, comprovam o incesto havido na Lava-Jato e revelam um bando de pistoleiros de aluguel recebendo uma encomenda de assassinato de reputação”, disse Dantas.
As mensagens da Operação Spoofing, divulgadas sábado (8/7) pelo jornalista Luis Nassif em seu site, mostram o acerto entre uma pessoa de nome “Paulo” e o ex-chefe da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, para fazer declarações criticando Dantas duramente.
Em uma das mensagens, “Paulo” diz para Dallagnol: “Bata no Bruno Dantas, mas lembre que tem ministros que concordam conosco”. O ex-procurador responde: “Essa é a ideia”.
DANTAS É SUSPEITO – Sinceramente, o presidente do TCU não deveria condenar Dallagnol antecipadamente e com tamanha disposição. Aliás. Bruno Dantas não deveria sequer se meter nesse assunto, porque sua suspeição é mais do que clara.
O ódio que o ministro devota à Laja Jato tem motivos pessoais. Junto com Vital do Rêgo e Raimundo Carreiro, outros dois ministros do Tribunal de Contas da União, o atual presidente Bruno Dantas foi citado por Sérgio Cabral em uma delação premiada homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo.
Os três são acusados pelo ex-governador na Lava Jato de receberem R$ 100 mil mensais durante um ano através de contrato simulado entre a Fecomércio-RJ e um escritório de advocacia.
ACUSAÇÕES A MINISTROS – Detalhe curioso: Dantas, Vital do Rêgo e Carreiro entraram no TCU com as bênçãos do senador Renan Calheiros (MDB-AL), ex-presidente do Senado Federal, também investigado na Lava Jato, por integrar o chamado “Quadrilhão” do MDB.
Essas interligações mostram a suspeição do próprio TCU, que teve outros três ministros investigados na Lava Jato: Augusto Nardes, Antonio Anastasia e Aroldo Cedraz, todos citados em delações premiadas.
No caso de Bruno Dantas, há outros episódios. Em 2016, com o ministro Vital do Rego e esposa, passou um fim de semana numa ilha paradisíaca à custa da JBS — a empresa que eles investigavam. Além disso, usou o jatinho do grupo J&F em uma viagem entre o Recife e Brasília, quando o empresário Joesley Batista já era alvo da Lava Jato.
NOMEAÇÃO DO IRMÃO – Em 2018, dias antes de julgar o polêmico decreto do programa de portos do então presidente Michel Temer, seu irmão Hugo Dantas, que trabalha na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), virou adido em Buenos Aires.
Na ocasião, o assunto tornou-se notícia porque o tempo de carreira do irmão de Dantas não era, em comparação com outros casos, suficiente para justificar a indicação.
Nesse clima, não causa surpresa o fato de Dallagnol e o procurador-geral Rodrigo Janot terem sido condenados no TCU no chamado caso das diárias, um processo em que a própria auditoria do tribunal não encontrou irregularidades e pediu arquivamento. Mesmo assim, o TCU foi em frente e condenou os dois procuradores.