O doce veneno da rivalidade. Por CLAUDEMIR GOMES

Por CLAUDEMIR GOMES

O taxista Val é um tricolor fervoroso. Não perde um jogo do Santa Cruz no Arruda; arranja tempo para ir ver treino; acompanha as resenhas esportivas em diferentes rádios, enfim, se entrega ao seu clube do coração, de corpo e alma. Sempre que passo pelo local onde faz ponto, ele puxa conversa sobre o futebol. Adora revelar seus conhecimentos sobre o futebol local, brasileiro e internacional. Se enche de informação, e forma opinião sobre tudo.

Val é o típico torcedor raiz, aquele que se alimenta do amor, mas saboreia o veneno da rivalidade. Hoje cedo, logo que me avistou bradou: “Acho que o Sport não passa para a Série A”.

– Só Love pode lhe responder! Disse em tom de provocação, e fiquei no aguardo da reação.

“O jogo com o Vila Nova disse tudo. O cara, com 38 anos, a bola vem, bate nele, e entra. A sorte não vai durar até o final. Os outros times vão se reforçar”. Virou as costas e saiu como se tivesse sentenciado o futuro do time rubro-negro, único representante pernambucano na Série B.

Em nenhum momento Val falou sobre a campanha do seu amado Santa Cruz. Não fez previsões sobre o futuro. A ordem do dia é secar o Leão, fato que me levou ao questionamento: o que lhe deixará mais feliz, o acesso do Tricolor do Arruda, ou a frustração dos leoninos de verem o Sport permanecer mais um ano na Segunda Divisão Nacional?

Coisa da rivalidade!

Por outro lado, o rubro-negro Carlos, porteiro do edifício Joaquim Cardoso, desfila diariamente, lépido e fagueiro, com a camisa do Sport. Qualquer comentário que se faça, a resposta é a mesma: “Quinta-feira serei líder”, prognóstica colocando a vitória do conjunto leonino, sobre o Juventude, como certa. Afinal, os números alimentam o seu otimismo.

Com um aproveitamento de 100% como mandante, o Sport ainda irá disputar quatro jogos na Ilha do Retiro, neste primeiro turno da Série B, e mais quatro partidas na condição de visitante. Em onze jogos disputados, até o momento, o rubro-negro pernambucano contabilizou 7 vitórias, sendo 6 em casa, e uma em campo do adversário. Chegar ao final do turno com dez vitórias, ou mais, representa um paço gigantesco na caminhada em busca do acesso.

Vale lembrar que a matemática da classificação segue a mesma: 19 vitórias e 8 empates. Naturalmente que, o sarrafo pode subir ou descer mais um pouco, tudo vai depender do desempenho dos times, mas 65 pontos é uma marca que deixa qualquer clube tranquilo em relação ao acesso.

– A diretoria precisa investir nuns dois reforços! Alerta o leonino Raul Henry, observando que a manutenção da boa campanha passa por um grupo forte.

Um pensamento com o qual comunga o ex-presidente, Homero Lacerda, que é apontado como um dos dirigentes com maior conhecimento de futebol na vitoriosa história do Sport Club do Recife.

– O time do Sport está bem encaixado em todos os setores, mas em time que está vencendo também se mexe. Se a ordem é elevar o padrão, agregar valores se torna indispensável, comenta Homero liberando a receita do sucesso que fora utilizada por ele em várias ocasiões.

“A alegria de Val acaba quando chegar o mata, mata. A partir daí acaba a autonomia de voo do Santinha”, diz Carlos em voz alta para provocar o amigo.

“O Leão vai morrer na praia”, rebate o tricolor Val com a segurança de um vidente.

Fico a pensar, cá com meus botões: o que seria do futebol sem o doce ranço da rivalidade?