Pedro do Coutto
Na noite de terça-feira, no encerramento da reunião internacional convocada pelo presidente Lula da Silva, seguranças do presidente Nicolás Maduro agrediram jornalistas brasileiros que tentavam entrevistá-lo num dos salões do Itamaraty. A repórter Delis Ortiz, da TV Globo, foi atingida por um soco e teve que ser socorrida pelo serviço médico. O episódio focalizado em destaque pela TV Globo e pela GloboNews acrescenta as críticas feitas pelos presidentes do Uruguai e do Chile a Lula por ter tentado suavizar a imagem ditatorial de Caracas.
A violência e a violação de direitos humanos são características do governo Maduro destacadas de forma quase que permanente pelo noticiário internacional, incluindo os jornais brasileiros. O acontecimento que expôs mais uma vez o estilo violento do poder na Venezuela não foi registrado pelas primeiras edições, penso, do próprio O Globo e da Folha de S. Paulo, talvez pelo horário em que ocorreram. Mas, certamente, hoje, os jornais impressos devem destacar o que as edições online focalizaram em síntese.
CONDUTA – A demonstração de agressividade e intolerância para com repórteres que apenas queriam entrevistar Maduro expõem em cores firmes entre as paredes do Ministério das Relações Exteriores do Brasil o estilo de atuação de um governo que se perpetua no poder, censura os jornais e as emissoras de televisão, chegando a impedir a candidatura de legítimos oposicionistas.
Recentemente, reelegeu-se mais uma vez num processo antidemocrático destacado internacionalmente como tal, inclusive pela Organização das Nações Unidas. “Seguranças estrangeiros agridem jornalistas brasileiros dentro do Brasil”, basta essa citação para dimensionar um estilo de governo rejeitado internacionalmente, mas que recebeu afago em Brasília do presidente Lula da Silva. Uma página triste na história do nosso país.
RISCO DE CALOTE – Numa excelente reportagem, na edição de O Globo desta quarta-feira, Rennan Setti, João Sorima Neto e Ana Flávia Pilar, revelam que o risco de calote de empresas brasileiras em relação ao mercado financeiro subiu na escala da Fitch, uma das três maiores empresas de classificação de risco do mundo, em decorrência da lenta recuperação da economia e do cenário internacional, do episódio das Lojas Americanas e da taxa da Selic de 13,75% ao ano que impede que as empresas possam colocar novos títulos no mercado com juros inferiores a esses 13,75%.
A pesquisa da Fitch divulgada ontem é resultado de um ano de análises, projetando um levantamento compartilhado com a coluna Capital do caderno econômico do O Globo. Depois do caso das Americanas, os bancos se retraíram em relação à concessão de crédito. Algumas empresas foram rebaixadas de nível e consideradas em risco de não terem recursos financeiros para saldar os seus compromissos. A reportagem relaciona a ex-Camargo Corrêa, hoje Moover, a Light, a Gol e a empresa de telemarketing Atento, entre outras.
PLANO DE VIAGENS – Mariana Barbosa, O Globo, revela que a empresa Hurb, que atua no campo da promoção de viagens internacionais, demitiu cerca de 400 pessoas e foi proibida de lançar planos (de viagens) sem data marcada. A empresa vinha atuando com esse sistema, mas tornou imprevista a sua manutenção, dando margem a risco para os clientes.
É mais uma empresa incluída na lista das que se encontram em dificuldade. A matéria tentou ouvir a Direção da Hurb, mas as respostas foram vagas, especialmente sobre as demissões.
DEMARCAÇÃO – A Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta terça-feira, um projeto de lei que viola as regras da demarcação das terras indígenas no país. Viola até a própria Constituição brasileira.
Estabelece que as regras valem somente até outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição e despreza as terras legitimamente indígenas registradas nas últimas décadas. Foi uma derrota para o governo que tentou sem êxito adiar a votação. Mas o presidente da Casa, Arthur Lira, manteve a matéria na pauta.
MEDIDA PROVISÓRIA – Outra derrota projetada para o governo situa-se na Medida Provisória que vence hoje e que reestruturou o quadro ministerial do país. A derrota atinge diretamente os Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Lula aceitou essa derrota porque a sua preocupação maior é manter a criação dos Ministérios da Fazenda, do Planejamento, da Previdência Social e do Trabalho.
O presidente da República deve tentar reverter essa votação no Senado ou vetá-la quando tiver que sancionar a lei. Mais um problema para o governo que se encontra imobilizado pela omissão e por lances que não estão dando certo.