Lula diz que Campos Neto não tem compromisso com o Brasil e elogia atuação de Meirelles

Entrevista foi o ataque mais forte desfechado contra Campos Neto

Pedro do Coutto

Numa entrevista à imprensa brasileira e internacional, em Londres, neste sábado, o presidente Lula da Silva afirmou que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, não tem compromisso com o Brasil, mas com o governo Bolsonaro que o nomeou para o cargo que ocupa.

Lula assinalou também que, outro dia, Roberto Campos Neto disse que para atingir a meta de inflação na escala de 3% ao ano, a taxa de juros da Selic deve ser acima de 20%. “Está louco. Ele não está falando a verdade”, disse Lula. Reportagens sobre o pronunciamento de Lula contra Campos Neto são de Ivan Pinoti, Folha de S. Paulo, e de Vivian Oswald, O Globo, edição deste domingo.

AUTONOMIA – Lula destacou ainda que não discute sobre a autonomia do BC, mas elogiou, como exemplo de sintonização com o Palácio do Planalto, o desempenho de Henrique Meirelles ao longo de oito anos de seus dois primeiros governos.

“Eu o indiquei para o posto e duvido que esse cidadão (referindo-se a Campos Neto) tenha mais autonomia do que aquela que Meirelles teve. Mas há uma diferença, Henrique Meirelles tinha responsabilidade de estar num governo discutindo as suas preocupações com o presidente da República. Esse cidadão (Roberto Campos Neto) não tem”, afirmou.

A entrevista de Londres foi o ataque mais forte desfechado contra Roberto Campos Neto, cuja presença no Banco Central, na minha opinião, se tornou impossível. Afinal, o Brasil não pode ter à frente do Bacen alguém que confronte com o presidente da República. Essa dualidade não existe na prática. Campos Neto deveria pedir demissão imediatamente. Não tem condições políticas e morais para permanecer.

PRIVATIZAÇÃO –  Na entrevista de Londres, Lula ressaltou que também pretende entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal questionando a privatização da Eletrobras. Já ingressou com um recurso contra a legitimidade dos dispositivos incluídos no escândalo que fixou no máximo de 10% dos votos da União na holding , embora possua 42% das ações da empresa.

Além disso, focalizou, como assinalei na coluna de ontem, uma desigualdade estranha: se a União quiser recomprar ações da Eletrobras, terá que pagar três vezes mais o valor dos papéis no mercado financeiro. Tal dispositivo, digo, é um dos maiores absurdos ilegítimos da história da economia brasileira. Como se não bastassem esses exemplos, os diretores da Eletrobras aumentaram os seus salários de R$ 60 mil para R$ 360 mil por mês. Uma escalada de ações danosas, abusadas, ilegítimas e até inconstitucionais.

GOOGLE –  Muito interesse o título inspirado em Milan Kundera e o texto do artigo “A insustentável levea do Google”. do jornalista José Henrique Mariante, Folha de S. Paulo de ontem. O título de Milan Kundera é a “Instável leveza do ser”. No artigo, Mariante destaca que o Google no caso da restrição às suas publicações cita sempre a liberdade de expressão.

Mas, de forma contraditória, não publica as críticas que são enviadas à plataforma contra o seu próprio desempenho. Ataca a restrição para si, sem discutir conteúdos, mas pratica a censura prévia contra os que criticam a rede social.

REALEZA –  Na Folha de S. Paulo de domingo, Sylvia Colombo escreve sobre o fascínio que eventos como a coroação de reis e rainhas, no caso da Inglaterra, toca a sensibilidade e fascina multidões. É verdade. Na minha opinião, momentos estéticos e coloridos de pompa, característicos da monarquia, continuam influenciando e provocando emoção  em multidões.

Há pessoas que são contra a monarquia, mas todos reconhecem a beleza de acontecimentos como os da coroação da Rainha Elizabeth II, em 1952, e a de seu filho Charles III, em 2023. São formas, requintes, é a elegância e o espetáculo de uma festa deslumbrante e peculiar. Há os que se voltam contra a aristocracia, mas no fundo quase todos gostariam de fazer parte dessa escala social.