Caso Serrambi tem kombeiro preso por falsificação de documento

Do JC Online

Às vésperas do emblemático Caso Serrambi completar 20 anos, a Coluna Segurança descobriu que o kombeiro Valfrido Lira da Silva está preso há oito meses por um crime descoberto na mesma época em que ele e o irmão, Marcelo José de Lira, eram investigados pelos assassinatos das adolescentes Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão.

Em 2010, os irmãos kombeiros foram absolvidos no júri popular pelas mortes das adolescentes, apesar de todas as provas indicarem que eles foram os responsáveis pelo crime. Mas Valfrido continuou respondendo a outro processo por uso de documento falso.

Em 2012, ele foi condenado, mas a defesa recorreu. O processo transitou em julgado no segundo semestre de 2022, quando foi determinada a prisão de Valfrido.

Segundo as investigações, Valfrido utilizou uma carteira de habilitação falsa para trabalhar dirigindo uma kombi, entre abril de 1998 e 23 de julho de 2002, quando o documento foi cancelado por solicitação do Detran de Minas Gerais.

Valfrido Lira está preso há oito meses por causa de uma condenação na Justiça

Impedido de dirigir, Valfrido teria adquirido outra carteira nacional de habilitação, por meio do Detran da Paraíba. O kombeiro usou o documento até o dia em que foi preso preventivamente por suspeita de envolvimento na morte de Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado.

Ambos os documentos teriam sido confeccionados e entregues ao kombeiro por José Ramos Porfírio, proprietário da autoescola localizada em Ipojuca.

A Justiça determinou uma pena de oito anos e dois meses de prisão para Valfrido, em regime inicialmente fechado, e multa. Já para José Ramos a pena foi de oito anos, além de multa.

Familiares informaram à coluna que Valfrido está cumprindo pena no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.

Procurada, a assessoria da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informou que, por questões de segurança, não poderia confirmar a unidade prisional onde ele está cumprindo pena.

Marcelo Lira foi preso em flagrante usando uma kombi roubada

Outro Kombeiro do Caso Serrambi também responde processo na Justiça

O kombeiro Marcelo José de Lira, também absolvido no Caso Serrambi, é réu pelo crime de receptação qualificada. Mais de sete anos após ser preso em flagrante, o processo segue sem data de julgamento na Justiça.

Por causa da pandemia da covid-19, a Vara Criminal da Comarca de Ipojuca suspendeu audiências de instrução e julgamento que estavam marcadas para o processo em 2020. E, até hoje, não marcou uma nova data para o kombeiro.

Marcelo responde ao processo em liberdade.

Marcelo José de Lira foi preso em flagrante usando uma kombi roubada e com placas e chassi adulterados em 20 de outubro de 2015. De acordo com a polícia, o kombeiro foi encontrado na PE-60, em Ipojuca, onde estava usando o veículo para fazer o transporte e lotação de passageiros.

Os policiais descobriram que a kombi havia sido roubada no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Na época, a Polícia Civil não apontou quem foi o responsável pelo roubo.

Marcelo chegou a passar três dias no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, mas teve a liberdade provisória concedida pela Justiça, mediante pagamento de fiança.

O processo pelo qual Marcelo responde ainda passará por audiência de instrução e julgamento, ou seja, testemunhas de acusação e defesa serão ouvidas, além do réu.

Por fim, haverá a apresentação das alegações finais do Ministério Público, responsável pela acusação, e da defesa do kombeiro. Só então o juiz responsável poderá dar a sentença.

A pena para o crime de receptação qualificada pode chegar a oito anos de prisão, além de multa.

STJ confirmou decisão de dois tribunais anteriores que absolveram os acusados Marcelo e Valfrido Lira

Caso Serrambi

Os assassinatos das adolescentes de classe média alta Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão, ambas de 16 anos, na praia de Serrambi, Litoral Sul de Pernambuco, estão perto de completar 20 anos.

Marcelo Lira e Valfrido Lira da Silva, acusados pelo crime, foram absolvidos em júri popular em 2010. Houve recursos em instâncias superiores, mas o caso está encerrado desde dezembro de 2018, quando o processo transitou em julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Maria Eduarda e Tarsila estavam passando o feriado do Dia do Trabalhador com um grupo de amigos na Praia de Serrambi. Elas caminhavam sozinhas à beira-mar, no dia 03 de maio de 2003, quando não foram mais vistas.

Amigos procuraram por elas, mas disseram não ter encontrado nenhuma pista. Dez dias depois, o empresário José Vieira, pai de Tarsila, encontrou os restos mortais das adolescentes em um canavial em Camela, no distrito de Ipojuca.

As investigações conduzidas pela Polícia Civil apontaram os irmãos kombeiros como os responsáveis pelo crime. Entre as provas, objetos encontrados no local do crime e na kombi de Marcelo, como fio de nailon, barbeador da mesma marca e cor usado pelo kombeiro e fios de cabelo que se assemelhavam aos das vítimas.

Três testemunhas afirmaram, na época, ter visto as vítimas pedir carona na Praia de Porto de Galinhas. Mas o resultado foi contestado mais de uma vez pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

O então promotor de Ipojuca, Miguel Sales (falecido em 2014) chegou a pedir novas diligências três vezes, colocando em xeque as investigações, que acabaram nas mãos da Polícia Federal.

Mesmo após a Polícia Federal assumir as investigações do Caso Serrambi e concluir que os kombeiros eram os culpados pelas mortes, a sociedade pernambucana continuou dividida, porque surgiram vários boatos em relação à forma como as vítimas foram mortas.