
O editor, escritor e poeta carioca Moacyr Félix de Oliveira (1926-2005) se enreda numa estranha aventura no poema “Auto-Retrato”. Era um poeta que questionava até a poesia. Em sua visão, qualquer poema poderia ser político. Escreveu versos combativos, discursivos, longos ou curtos, persuasivos. “De que adiantou?”, ele indagava.
AUTO-RETRATO
Moacyr Félix
Certa vez, numa aventura estranha
fugi do estreito túmulo em que me estorcia
para uma ampliação sem fim.
Quando voltei e senti, de novo,
ferindo-me, o peso dos grilhões,
então não mais sabia quem eu era.
E nunca mais soube quem eu sou.
Talvez a sombra triste de um sonho de poeta.
Talvez a misteriosa alma de uma estrela
a guardar ainda no profundo cerne
a ilógica saudade de um passado astral.