Por José Casado
Veja
No início da semana, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, deu um chá de cadeira no ministro Fernando Haddad (Fazenda) e nas ministras Simone Tebet (Planejamento) e Ester Dweck (Gestão). Estava prevista uma reunião sobre o Orçamento de 2024.
Depois de longa espera por Costa, Haddad desistiu. Saiu do Palácio do Planalto, discreto como entrou. Deixou o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, para representá-lo, confirmou a repórter Vera Rosa.
É UMA ILHA… – No arquipélago de Lula e do PT em Brasília, o ministro da Fazenda tem sido uma ilha de educação, paciência, conciliação e persuasão — não necessariamente nessa ordem.
Caso exemplar é o seu comportamento na guerra, para muitos inútil e perigosa, aberta por Lula contra a diretoria do Banco Central, que ontem optou por manter a taxa de juros em nível recorde no planeta (na média, 8 pontos porcentuais acima da inflação).
Lula elegeu o presidente do BC, Roberto Campos Neto, como adversário pessoal. Nunca o recebeu nem demonstrou interesse em seus argumentos e só se refere a Campos Neto como “esse cidadão” — nas últimas reuniões no Planalto passou a qualificá-lo como “esse rapaz”.
GUIA INFALÍVEL? – Parte do PT atravessou os últimos 43 anos aprendendo a cultuar Lula como guia infalível e procura emular o chefe em qualquer circunstância, em geral com uma estridência palanqueira, que distorce e dilui a mensagem.
A crítica da política monetária, sempre necessária, acaba substituída por efusões de palavras em frases sem sentido, numa escassez de ideias e abundância de insultos (“sabotagem”, “falta de vergonha na cara”, etc.).
Em contraste, Haddad esgrime mansamente. Em pé, na porta do ministério, disse às TVs que transmitiam ao vivo ter achado “muito preocupante” a manutenção da alta taxa de juros.
DISSE O MINISTRO – “Hoje nós mostramos que as projeções de janeiro estão se confirmando, sobre as contas públicas… Num momento em que a economia está retraindo e que o crédito está com problema, o Copom chega a sinalizar até a possibilidade de subida da taxa, que já é a maior do mundo”, alfinetou.
“A depender das futuras decisões, podemos, inclusive, comprometer o resultado fiscal. Daqui a pouco vai ter problemas das empresas para vender e recolher impostos”, acrescentou.
Haddad evita a vulgaridade. Paciente, o ministro da Fazenda observa os ritos e limites institucionais no debate público, iluminando as diferenças no governo e no PT. Isso tem peso específico na política: ajuda a isolar a mediocridade.