Polícia Federal revela que assessor era “operador financeiro” do governador do Acre

Eduardo Braga entrega ao governador propinas em dinheiro

Pepita Ortega
Estadão

Em meio à extensa lista de investigados da Operação Ptolomeu, a Polícia Federal aponta um nome central do esquema de desvios e fraudes envolvendo a cúpula do governo do Acre: Eduardo Braga da Rocha, o ‘Dudu’. Os federais o apontam como o ‘principal operador financeiro do governador Gladson Cameli’. Ao governador, eles atribuem o papel de suposto ‘chefe do grupo’.

Tão próximo do governador, ‘Dudu’ ocupava até o início do mês cargo comissionado de chefe de Departamento da Casa Civil do Acre. No dia 9, quando foi deflagrada a terceira etapa da Ptolomeu, a ministra Nancy Andrigui, do Superior Tribunal de Justiça, ordenou seu afastamento cautelar.

CONTRATOS MILIONÁRIOS – Gladson Cameli tem negado enfaticamente envolvimento com a organização criminosa que, segundo a PF, se apossou de contratos milionários de sua gestão nas áreas de saúde e infraestrutura.

Relatório da PF encartado aos autos que formam a Ptolomeu sustenta que ‘Dudu’ possui ‘inequívoca proximidade’ com o governador. Ele já havia sido alvo de pedido de prisão preventiva formulado pelos investigadores da operação que põe sob suspeita a gestão Gladson Cameli e abala o Acre. A PF também pediu o afastamento do governador, o que foi negado.

A PF narra que ‘sobram indícios’ de que Eduardo Braga tem ‘posição de proeminência’ na organização criminosa investigada. Segundo os investigadores, ele atua em três frentes: 1) Gerir e organizar as finanças do governador; 2) Negociar e receber vantagens indevidas (propina) em virtude de contratos públicos celebrados; 3) Delegar serviços menos importantes àqueles que estão abaixo dele na cadeia de comando da organização criminosa;

PODER DO OPERADOR – Ao pedir ao Superior Tribunal de Justiça a abertura da nova fase ostensiva da Ptolomeu, a PF transcreveu diálogos entre outros investigados que indicam o ‘poder e a ascendência’ de Eduardo Braga no grupo investigado, ‘localizando-se muito próximo ao governador do Acre’.

Uma conversa foi recuperada no celular de um dos alvos da Operação Atlântida, aberta pela PF em Cruzeiro do Sul – interior do Estado -, em junho de 2022. O investigado que teve o aparelho apreendido possui, segundo a PF, empresa que detém ‘contratos públicos fraudados’.

Essa empresa, diz a investigação, teria pago propina de quase R$ 500 mil a Eduardo Braga no bojo de um contrato fechado com o governo acreano.

SERVIÇOS PRIVADOS – Na terceira etapa ostensiva da Ptolomeu, deflagrada na quinta-feira, 9, por ordem de Nancy Andrigui, do STJ, Eduardo Braga foi alvo de afastamento cautelar do cargo comissionado como chefe de Departamento da Casa Civil do Acre, com salário mensal de R$ 11.069,10.

No entanto, segundo a PF, ‘Dudu’ não parece prestar serviços no órgão público, sendo remunerado, na prática, ‘para prestar serviços privados ao governador, numa flagrante situação de desvio de finalidade’.

Em julho de 2022, os investigadores deram início a um monitoramento de ‘Dudu’ e constataram sua proximidade com Gladson Cameli. De acordo com os investigadores da Ptomoleu, Eduardo Braga ‘gerencia a obra de uma mansão do governador do Acre’.