Se as investigações continuarem, escândalo das joias deve prejudicar a imagem de Bolsonaro

Altamiro Borges: TCU dá 5 dias para Bolsonaro devolver joias

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Silvio Cascione
Estadão

O escândalo das joias sauditas, revelado pelo Estadão, ainda não causou nenhum dano irreversível à imagem de Jair Bolsonaro. Mas, de todas as denúncias envolvendo o ex-presidente, este é o caso com maior potencial de estrago, com possíveis implicações sobre o governo Lula e o xadrez da oposição na preparação para 2026. Tudo depende, e muito, da continuidade das investigações.

Não houve, até agora, uma pesquisa de opinião pública sobre a repercussão do caso. Mas dados de redes sociais, como os coletados pela Quaest e divulgados na imprensa na semana passada, indicam que o escândalo ainda não furou a bolha bolsonarista.

CETICISMO BOLSONARISTA – Parlamentares experientes, em conversas na semana passada, relatavam a mesma percepção. Muitos estavam céticos de que o eleitor que votou no presidente mesmo após a pandemia e as denúncias de “rachadinha” esteja mudando de opinião agora.

Mas o desconforto de aliados do ex-presidente é nítido, pois isso pode ser apenas uma questão de tempo. Diferentemente de outros casos, este tem forte apelo popular. Um caso sobre alguém que tenta pegar escondido joias milionárias para presentear a esposa tem muito mais chance de “cair na boca do povo” do que minutas de golpe.

Além disso, Bolsonaro tem agora menos recursos e menos alcance para defender sua versão do caso do que quando era presidente. Muitos aliados da época de campanha, como o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, já criticam publicamente o ex-presidente por se ausentar do Brasil em vez de liderar a oposição a Lula. E o bispo Macedo está fazendo carga.

VISÃO MAIS NEGATIVA – Se o escândalo parar onde está, por falta de provas ou de lentidão judicial, a pressão pode se dissipar. Por enquanto, Bolsonaro é o líder de oposição mais importante; mesmo se for considerado inelegível, ele ainda tem força para indicar um sucessor (ou sucessora).

Mas se as investigações continuarem, e novas provas continuarem surgindo, o caso pode aos poucos sedimentar uma visão mais negativa do ex-presidente. Uma erosão contínua, como a que afetou o presidente Lula na década passada.

Muitos eleitores ainda seguirão fiéis a Bolsonaro, mas outros que votaram no ex-presidente poderão rejeitá-lo com mais força, abrindo mais espaço para outros nomes de oposição.