O ministro está disposto a fazer da FUNDAJ um centro de diálogo regional e, para isso, eu lembraria que nós já temos um conglomerado, o Consórcio Nordeste, que pode muito bem aproveitar a massa crítica já presente e disponível na FUNDAJ.
Por Flávio Brayner – Escritor e Professor Emérito da UFPE
Há alguns dias (3 de março passado) a professora Márcia Ângela Aguiar, minha querida colega de Centro de Educação da UFPE, assumiu a Presidência da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) numa solenidade concorridíssima em que estavam presentes inúmeros representantes do mundo político (verdadeiro encontro “ecumênico”!) e do universo acadêmico, dois mundos que, em geral, andam separado mas que ali, naquele momento, pareceu encontrar um interessante congraçamento. Presentes, inclusive, o Ministro da Educação (Sr. Camilo Santana), a Governadora do Estado (Dona Raquel), a Senadora Tereza Leitão, além dos ex-presidentes daquela instituição Alfredo Bertini e Paulo Rubem Santiago, e ausente (!) o mais recente Presidente da instituição, Sr. Antônio Campos (parece que a deselegância instaurada por Bolsonaro de não transmitir o cargo ao sucessor, instalou-se de vez entre nós. Elegância moral e sensibilidade republicana, definitivamente, não se compram com… jóias!).
Márcia observa, em seu discurso de posse, que a FUNDAJ produz um tipo de pesquisa (sociológica, educacional, demográfica, cultural) que orienta e fundamenta políticas públicas regionais e até nacionais, dispondo de um quadro profissional altamente qualificado e produtivo, embora reduzido, necessitando ser ampliado e carecendo de melhores condições de infra-estrutura: ficou claro, mais uma vez, o franco desiderato do governo anterior de destruir ou bloquear instituições culturais, centros de pesquisa, universidades, equipamentos, com o sub-financiamento da ciência, a não renovação de quadros… Márcia propôs (e o Ministro aparentemente aceitou) uma maior cooperação entre Fundação e Ministério (o Ministro confessou publicamente conhecer pouco do papel da FUNDAJ, que dispõe de um acervo fotográfico, fonográfico e documental dos mais importantes do país, além do próprio museu, uma editora, um cinema e uma PósGraduação).
O fato de termos uma professora-pesquisadora à frente da Fundação é altamente promissor e, sem dúvida, alimenta um otimismo bastante realista, e isto não apenas pelo fato de Márcia ser um das maiores especialistas brasileiras em Políticas Públicas de Educação (foi membro do Conselho Nacional de Educação e presidente de várias Associações nacionais de pesquisa educacional): sai uma visão burocrática e administrativa da pesquisa (o “Império dos Editais” e da administração do patrimônio), e entra o princípio da responsabilidade social da ciência e sua função política numa região absolutamente carente de iniciativas públicas que minorem a vergonhosa desigualdade entre nós!
O Ministro está aparentemente disposto a fazer da FUNDAJ um centro de diálogo regional e, para isso, eu lembraria que nós já temos um conglomerado, o Consórcio Nordeste, que pode muito bem aproveitar a massa crítica já presente e disponível na FUNDAJ, além de articular as diversas instituições regionais de pesquisa social em torno de um projeto que, um dia, pertenceu à SUDENE, aquela dos sonhos desenvolvimentistas de Celso Furtado e que, hoje, precisa ser retomado em novas bases.
Que aquela imensa quantidade de representantes do nosso vastíssimo espectro político estivesse presente é sinal promissor para aquelas políticas públicas de desenvolvimento e cultura capazes de juntar os “que pensam o quê fazer” com aqueles que têm o “poder de fazer”.
O título deste artigo foi a palavra de ordem clamada por alguns presentes ao final da solenidade! E eu desejo um bom e produtivo trabalho à minha amiga Márcia.
Flávio Brayner é Professor Emérito da UFPE