Gilberto de Mello Freyre foi um escritor brasileiro nascido em Recife, em 15 de março de 1900, que se dedicou principalmente à composição de ensaios para compreender e interpretar o Brasil por meio de diversos ângulos, como o da história, da antropologia e da sociologia. Escreveu também uma série de livros de ficção e de poesia bem como compôs muitas pinturas, sendo considerado um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. O autor é de uma família brasileira muito tradicional que descende dos primeiros colonizadores portugueses de nosso país, tendo também antepassados holandeses, espanhóis e indígenas, contemplando em sua própria origem a grande mistura de etnias que compôs o brasileiro.
Ao contrário do que se possa imaginar, Freyre tardou a aprender a ler e a escrever, destacando-se por seus desenhos. Teve aulas particulares com o pintor Telles Júnior e foi alfabetizado em inglês. Em 1909, perdeu sua avó materna, que o enchia de mimos. A partir de então, o autor foi viver no Engenho São Severino do Ramo, passando a conviver com a vida no campo, sobre a qual vai escrever futuramente. Ainda em sua juventude, tornou-se protestante batista, chegando a exercer a atividade missionária.
O intelectual seguiu uma série de carreiras de forma concomitante. Enquanto desenvolvia suas pesquisas acadêmicas, também foi jornalista, cartunista e artista plástico não só no Brasil, mas também em vários países da Europa e nos Estados Unidos. Mesmo ganhando o mundo, manteve sempre uma forte ligação com seu estado de nascimento – Pernambuco -, especialmente com Recife e Olinda. Durante sua estadia nos Estados Unidos, desencantou-se com o protestantismo e tornou-se um homem sem religião. Em sua volta ao Brasil, passou a simpatizar com o catolicismo popular e com o xangô do Recife, exaltando a pluralidade cultural de sua região.
Sua trajetória de estudos teve início no princípio dos anos de 1920, quando Freyre partiu para os Estados Unidos para estudar Ciências Sociais e Artes. O professor Joseph Armstrong tentou convencê-lo a naturalizar-se como estadunidense, conhecendo o potencial do autor para os estudos, mas o jovem pesquisador não aceitou a proposta, preferindo escrever em português e buscando criar seu próprio estilo, como anotou em um de seus diários de pesquisa.
Em 1924, retornou a Recife a fim de continuar suas investigações sobre a história e a cultura brasileiras, mas partiu para o exílio após a Revolução de 1930. Voltou para os Estados Unidos, lecionando na Universidade de Stanford e, no ano seguinte, foi para a Europa. Já em 1932, começou a escrever sua obra mais famosa, o livro Casa-Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal, publicado um ano depois, por meio do qual revolucionou a historiografia ao privilegiar os registros da história oral, os manuscritos de arquivos públicos e privados, os anúncios de jornais, os documentos pessoais e outras fontes até então ignoradas frente aos registros oficiais de guerras e figuras ilustres, mesclando sociologia e antropologia para a interpretação dos acontecimentos.
Freyre passou um tempo muito difícil, recusando empregos e vivendo em casas de amigos, até que a obra começou a fazer sucesso e lhe devolveu o trabalho de professor. Em 1941, casou-se com Maria Magdalena Guedes Pereira, com quem teve dois filhos. No ano seguinte, Gilberto e seu pai, o educador e juiz de Direito Alfredo Freyre, foram encarcerados no Recife por terem realizado uma série de denúncias contra racistas e nazistas no Brasil, dentre eles um religioso alemão. Os dois reagiram à prisão e foram soltos no dia seguinte. No ano de 1946, entrou para a vida política elegendo-se deputado federal constituinte pela União Democrática Nacional (UDN), marcando seu mandato com ações contra o racismo. Em 1954, apresentou uma série de propostas para suavizar as tensões raciais na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Pela grandiosidade de seu trabalho, Gilberto Freyre recebeu uma série de homenagens. Dentre as mais populares, a escola de samba Mangueira criou um enredo inspirado em “Casa-Grande e Senzala” no carnaval de 1962 e, dentre as mais sofisticadas, recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico das mãos da rainha Elizabeth II em 1971. Foi doutor pelas Universidades de Sorbonne, em Paris, de Colúmbia, nos Estados Unidos, de Coimbra, em Portugal, de Münster, na Alemanha e de Sussex, na Inglaterra. Gilberto Freyre faleceu em 15 de julho de 1987, em Recife, deixando um grande legado para a nossa cultura.
