Neruda para sempre permanecerá! Por Antônio Campos

Por Antônio Campos – Advogado, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras

Peritos internacionais chegaram a conclusão, recentemente, que o poeta chileno Pablo Neruda morreu envenenado, há 50 anos, tendo falecido 12 dias após o golpe militar do Chile.

Esta revelação é uma reviravolta num dos grandes debates do Chile, após o golpe de 1973. Confirma a versão do motorista do escritor e dos advogados da família, que defendiam que Neruda não estava gravemente doente e que teria sido envenenado, por ser um dos maiores oponentes do regime militar.

A sua poesia e o amor são maiores que qualquer esquecimento ou veneno, que lhe inocularam. A poesia e o legado de Neruda permanecerão.

Pouco antes de voltar ao Chile, esteve com meu avô Miguel Arraes, em Paris, tendo dedicado um dos seus livros, O Canto Geral, também assinado, abaixo da assinatura de Neruda, por exilados chilenos, que se encontravam em Paris. Esse livro é guardado, em família, com grande carinho.

Ele e Gabriela Mistral são os dois maiores poetas chilenos. Os dois ganharam o Prêmio Nobel de Literatura. Tenho pela poesia de Pablo Neruda e pela história da sua vida uma profunda admiração, que não consigo sintetizar em um breve texto. Estive em Isla Negra, no Chile, a sua casa de veraneio, onde viveu um bom tempo.

O seu livro Vinte poemas de amor e uma canção desesperada é um dos meus livros prediletos.

Trouxe, em uma das Fliporto – Festa Literária Internacional de Pernambuco, o escritor chileno Antonio Skármeta, autor de um livro de ficção, que virou filme O Carteiro e o Poeta, que fez muito sucesso. Um belo filme. Fez um importante depoimento em sua fala na Fliporto 2009, em Porto de Galinhas, sobre Neruda. Skármeta e Neruda tiveram alguns encontros em Isla Negra, no Chile.

Uma das mais memoráveis crônicas sobre Neruda, à época e em todos os tempos, é a do cronista Renato Carneiro Campos, meu tio, que escrevia aos domingos, no Diário de Pernambuco, cujo título é: ‘’Manhã de Tempestade no Coração do Verão’’, publicada em 30.09.1973.

Assim inicia a sua crônica: ‘’Já doente, Pablo Neruda arrumou as malas, deixou Paris, e foi para o Chile aguardar a sua morte chilena’’. E assim termina a sua crônica, palavras que ratifico aqui: ‘’É por tudo isso que, com os meus punhos brasileiros frágeis e feridos, agarro nas alças do seu caixão chileno, para plantá-lo em chão da América, na certeza que o amor é maior do que o esquecimento’’.

Neruda para sempre permanecerá!