Celso Serra
Durante os longos anos do Holocausto comandado por Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, dois brasileiros se notabilizaram em ajudar pessoas perseguidas a escapar do genocídio nazista, por serem judeus, maçons, ciganos, portadores de deficiências e homossexuais — Luiz Martins de Souza Dantas e Araci de Carvalho Guimarães Rosa.
Souza Dantas nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1876, e morreu em Paris no dia 16 de abril de 1954. Era formado em Direito e diplomata de carreira. E a diplomataAraci de Carvalho Guimarães Rosa nasceu em Rio Negro, Paraná, em 5 de dezembro de 1908. Faleceu em São Paulo no dia 28 de fevereiro de 2011, aos 102 anos de idade. Foi casada com o escritor João Guimarães Rosa. É conhecida historicamente como “O Anjo de Hamburgo”.
APOIO ÀS MINORIAS – Como embaixador brasileiro na França, na década de 1940, Souza Dantas concedeu vistos para o Brasil a vários judeus e outras minorias perseguidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, contrariando ordens escritas do governo de Getúlio Vargas. Foi repreendido por isso, porém, para salvar vidas humanas, continuou a forjar documentos com datas anteriores às ordens escritas recebidas do governo brasileiro.
Documentos comprovam o envolvimento pessoal e direto do embaixador, que começou a emitir os primeiros vistos diplomáticos “irregulares” de próprio punho. Não eram para pessoas “especiais” ou “importantes”, mas para gente comum.
Ele não seguiu nenhuma regra imposta pelo governo de Getúlio Vargas, não exigiu taxas, transferências bancárias, declarações ou atestados, e tampouco perguntou ou informou a alguém a origem étnica dos pretendentes. A maioria desses documentos – mais de 1000 – beneficiava judeus.
O GRANDE ATOR – Zbigniew Ziembinski, judeu polonês, foi um dos beneficiados e iria se refugiar nos Estados Unidos. Na viagem para os EUA, de passagem pelo Rio de Janeiro em 1942, se apaixonou pela cidade e aqui ficou até a morte, em 1978.
O Brasil ganhou muito com isso, pois o extraordinário Ziembinski foi um dos fundadores do moderno teatro brasileiro.
O embaixador Souza Dantas, por sua atuação em salvar pessoas da crueldade nazista, foi preso pela Gestapo e confinado durante 14 meses na Alemanha, em Bad Godesberg (distrito de Bonn). Foi libertado em uma troca por prisioneiros alemães detidos no Brasil.
“ANJO DE HAMBURGO” – Araci Guimarães Rosa ficou conhecida como “O Anjo de Hamburgo”. Por ser poliglota, foi nomeada para o consulado brasileiro em Hamburgo, Alemanha, onde passou a ser chefe da Seção de Passaportes. No ano de 1938, o ditador Getúlio Vargas colocou em vigor, no Brasil, a circular secreta – sim, secreta – nº 1.127, que restringia a entrada de judeus no país.
Aracy não respeitou a circular e continuou preparando vistos para judeus. Como despachava com o cônsul-geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra “J”, que identificava quem era judeu.
Sua volta ao Brasil, ainda durante a Segunda Guerra Mundial, não foi tranquila, pois ficou detida pelo governo alemão quatro meses, até ser trocada por diplomatas alemães.
HOMENAGENS – Souza Dantas e Araci Guimarães Rosa, foram agraciados pelo governo de Israel com o título de “Justos entre as Nações” pela ajuda que prestaram a muitos judeus, salvando suas vidas com a entrada ilegal deles no Brasil durante a ditadura de Getúlio Vargas, que era contra essa atitude humanitária.
A homenagem de inclusão do nome desses dois brasileiros está perpetuada no Jardim dos Justos entre as Nações do Yad Vashem (Museu do Holocausto), em Israel.
Também fazem parte das pessoas homenageadas no Museu do Holocausto de Washington, nos Estados Unidos.