Charge do Amâncio (Arquivo Google)

Eduardo Aquino
O Tempo

No mundo ocidental, o termo empoderamento feminino tem sido repetido à exaustão. Mesmo em meio à feminicídios – assassinatos de mulheres –, salários desiguais e cultura machista. Mas, para homens distraídos ou simplesmente ignorantes gestados no decadente machismo, um alerta: vivemos já há uns cem anos sob forte influência delas. É só o início. No século passado, foi o sufragismo, o direito ao voto. Daí ao trabalho fora dos lares, à escolaridade, a assumir cargos de chefia e comando de nações foi um pulo ou um susto para os machões radicais.

Há casos de greve de sexo ou de cruzar braços para suas multitarefas domésticas, trazendo um caos para os homens assustados com o universo feminino.

UM CALVÁRIO – Ser multitarefa, gerenciar o lar, parir e amamentar filhos, cozinhar, passar roupas, criar filhos, trabalhar fora e ainda estar atraente e disponível para o sexo quando o homem quiser é o calvário diário de grande parte das mulheres. Ou era, pois a cultura anda mudando.

Aos machistas e trogloditas, a violência doméstica, os estupros e as ameaças mostram o desespero de quem um dia tomava posse, escravizando os dons e a liberdade de a mulher existir.

O custo tem sido alto. Mulheres têm padecido mais frequentemente de depressão, pânico, fobia, desgaste físico, infarto, derrame, doenças crônicas como artrite, por exemplo. É o custo do poder, da independência, seja econômica ou afetiva. Conflitos emergem aqui e acolá. Casar? Ter filhos? E, se tiver, apenas um e mais tarde? Fazer pós, mestrado, doutorado? Abrir o próprio negócio?

COBRANÇAS – A mulher sempre será cobrada: se casar, deverá ser exemplar, sem férias ou descanso de seus muitos papéis. Se solteira, questionada quanto ao gênero, taxada de feminista, competindo ombro a ombro em uma guerra de sexo, descabida e misógina.

E, pior, quando bem-sucedida, assustam possíveis parceiros. Quando casada com homens bem-sucedidos, têm a pecha de aproveitadoras e oportunistas. A luta por desfazer o mito de que beleza e competência são incompatíveis.

Afinal, são 150 mil anos de ditadura machista, e só há cem anos os direitos femininos emergiram tão solidamente.

NO COMANDO – Bem-vindas ao comando do mundo nos próximos séculos. Cometerão erros e serão cobradas. Terão que lidar com conflitos e homens acomodados. É da natureza masculina. Mas será um mundo desequilibrado.

Afinal, somos complementares. Um dia comandaremos juntos e equilibradamente. Aprendam com nossos erros. Errem novos erros, pois só assim amadureceremos. E sabedoria não depende de gênero.