Rombo na Petros custa R$ 14 bilhões aos empregados

 

Folha de S.Paulo – Nicola Pamplona
No último dia 10 de setembro, enquanto visitava a filha em Campos, no norte fluminense, o engenheiro João Luiz Hygino Brandão, 63, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), que atribuiu ao estresse gerado em discussões sobre os rombos no plano de previdência privada dos empregados da Petrobras .

“Passei meses discutindo esse absurdo com meus colegas. Foi somatizando dentro da cabeça e acabou colaborando para o AVC. Não vou dizer que foi só isso, mas ajudou —e muito”, diz ele, que trabalhou na estatal por 26 anos até se aposentar, em 2012.

Dois dias depois, a fundação Petros, que administra os fundos de pensão da Petrobras, anunciou o plano para cobrir o rombo de seu plano mais antigo, conhecido como PPSP: pelos próximos 18 anos, empregados e pensionistas contribuirão com R$ 14 bilhões e a empresa entrará com R$ 13,7 bilhões.

Brandão é um dos 76.989 participantes que terão que ajudar. Ele diz que sua contribuição mensal subirá dos atuais R$ 965 para cerca de R$ 3.900, o equivalente a 34% de sua aposentadoria.

Como uma grande parcela dos afetados, culpa o uso político da Petrobras e da própria fundação. “Se fosse para cobrir rombo gerado por perdas no mercado, até entenderia. Mas por desvio de dinheiro?”, questiona.

Além da aplicação em investimentos que deram prejuízo, o plano sofreu com decisões questionadas da Petrobras durante a gestão José Sergio Gabrielli, quando os sindicalistas Diego Hernandez, Wilson Santarosa e Armando Tripodi exerciam poder sobre a área de Recursos Humanos e a Petros.

Uma delas é o chamado “acordo de níveis”, com o qual a empresa passou a dar promoções a empregados da ativa nos processos de acordo coletivo, com o objetivo de garantir reajustes maiores.

Os aposentados recorreram à Justiça, alegando que foram prejudicados, e receberam o mesmo direito, o que representou um custo adicional de R$ 2,2 bilhões no pagamento das pensões.