Procurador da Lava Jato ‘abre o jogo’ e diz que proposta de reforma política é solução cínica e mantém corrupção

Imagem: Produção Ilustrativa / Política na Rede
O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que as propostas aprovadas pela comissão que analisa a reforma política na Câmara dos Deputados preservam o modelo de corrupção que existe no sistema político brasileiro e que, com elas, há o risco de que haja uma “solução cínica” para o problema. Ele participou nesta segunda-feira (14) de painel em evento sobre compliance, organizado pela Amcham (Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos).
“Nós acreditamos que corremos um risco muito grande hoje de termos uma solução cínica para os problemas da corrupção. As propostas que estão no Congresso não solucionam, apenas preservam o modelo de corrupção que existe hoje no sistema político”, afirmou.

Lima disse que virou um “terrorista de internet” porque costuma se pronunciar sobre os atuais movimentos da política brasileira. “Nós vamos denunciar, como temos feito na imprensa, na internet, todos esses movimentos. Cabe à população defender a ideia de combate à corrupção efetivamente”, afirmou.
Segundo ele, é preciso combater as causas da corrupção no Brasil e, no setor público, elas estão no sistema eleitoral que é “extremamente caro e que exige, para se financiar, de alguma forma de dinheiro privado”.
Apesar disso, ele discordou da maneira como está sendo instituído o fundo para o financiamento público das campanhas eleitorais. “A resposta que os deputados estão buscando agora é dinheiro público através de um fundo. Numa democracia avançada, eu até poderia discutir isso, mas atualmente eu acho que é incompatível com a situação que o Brasil está”.
O procurador também discorda do chamado ‘distritão’, dizendo que ele vem para ajudar os parlamentares a manter essa “máquina partidária”.
“Com certeza nós estamos enfrentando hoje, com propostas do tipo ‘distritão’ ou fundo pela democracia, uma resistência enorme do atual Congresso. O futuro Congresso, dependendo das leis aprovadas hoje, pode ser melhor ou pode ser pior”. E acrescentou: “Muitos senadores envolvidos [em investigações] vão tentar simplesmente a Câmara dos Deputados, porque não sabem se serão eleitos senadores. O ‘distritão’ vem aí para auxiliá-los a manter essa máquina partidária”, acredita.
Tanto que, para ele, o que mais “preocupa” são as eleições para o Congresso Nacional no ano que vem, mais do que a eleição para presidente da República.
“O nosso problema é transformar o sistema. Nós temos que transformar positivamente, o que nós vemos é uma reforma política que, na verdade, não tem consistência nenhuma para resolver os problemas identificados”, disse.
Ele disse ainda que o Brasil precisa de uma renovação política “extraordinária” no ano que vem para que o sistema possa fazer a transição de corrupto para limpo.
“Precisamos de uma renovação extraordinária do ano que vem, não só de nomes, mas de formas de atuação. É difícil porque eu sou democrata, creio na democracia, mas não acho que é um processo que vai ser finalizado em 2018. Os Estados levaram 30 anos para fazer essa transição do sistema corrupto para o sistema limpo”, afirmou.

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