Governo novo, ideias novas

Talvez essa seja a principal ideia nova do governo novo: mudar as leis quando elas não são cumpridas.

 

Felipe Schulman    Felipe Schulman – É um estudante paulistano e tem 17 anos

Depois de participar da corrida eleitoral de 2014 como eleitor de primeira viagem, assumi o compromisso de continuar escrevendo neste blog para avaliar se Dilma e Aécio, candidatos que conquistaram os melhores lugares na disputa, iriam cumprir os compromissos da campanha.

Ela prometia “governo novo, ideias novas”. Ele, por sua vez,  falava em liderar uma oposição forte, que não desistiria do Brasil. Passada a eleição, eu só não esperava que os dois fossem cumprir suas promessas com tanta rapidez.

A presidente Dilma Rousseff, que sempre defendeu estado forte, já começou mudando tudo: para apaziguar o desespero do mercado levou Joaquim Levy, da escola mais liberal da economia, para o ministério.

O governo também enviou ao Congresso o PLN 36, um projeto de lei para mudar as regras do jogo nas finanças públicas. A proposta procura impedir que a própria presidente, por não ter cumprido a meta fiscal deste ano, acabe sendo obrigada a responder pelo crime de responsabilidade, o que iria afastá-la do cargo.

Talvez essa seja a principal ideia nova do governo novo: mudar as leis quando elas não são cumpridas, em lugar de assumir a responsabilidade pelo erro e cumprir as penalidades previstas na legislação. Como se vê, no quesito “ideias novas” a presidente se supera. Tanto é verdade que o projeto de lei em questão é algo jamais visto desde a redemocratização do país na década de 80, quando eu nem tinha nascido.

Já a oposição não pode ser criticada. Concordando ou não com as ideias ou medidas propostas pela base liderada por Aécio Neves, seu papel em Brasília está sendo cumprido. O debate sobre a PLN 36 engatilhou a oposição firme que Aécio prometeu.

Depois que o candidato derrotado fez discurso forte na quarta-feira, 3, no Congresso, a oposição conseguiu ocupar, de forma veemente, o palanque da Casa criticando, sem medo, as atitudes da base aliada do governo. Trata-se de uma oposição nova e surpreendente, que passou a contar com muita mobilização, muito interesse popular e que está mostrando, aqui e agora, traços fortes, que pareciam ocultos nos últimos 12 anos.

Tanto no acompanhamento do escândalo Lava Jato nas redes sociais, quanto na discussão do projeto da meta fiscal no Congresso, o engajamento político do povo tem sido a grande novidade da política.  Às vezes, o clima parece até quente demais.

Na sessão da Câmara na terça-feira, 2, alguns manifestantes foram retirados à força, acusados de chamar a Senadora Vanessa Graziottin (PC do B – AM) de “vagabunda”. Tanto os acusados quanto parlamentares da oposição alegaram que o grito teria sido de “Vai pra Cuba”. Tanto faz. Medidas judiciais poderão ser tomadas, no caso de comprovados os xingamentos.

É pouco provável que o caso vá parar na Justiça. Afinal, no calor de alguns acontecimentos, as pessoas podem dizer coisas sem refletir direito a respeito das palavras que usam. Além disso, gritar um impropério de cabeça quente sempre será falta minúscula se comparado ao ato cometido no dia seguinte, quarta-feira, 3, por Renan Calheiros, presidente do Congresso.

O senador Calheiros bloqueou a entrada de manifestantes no Congresso e as galerias, construídas justamente para serem ocupadas pelo povo durante as votações, ficaram vazias. No momento em que o povo queria se engajar, e se manifestar, foi calado e afastado. A “Casa do Povo” foi fechada ao povo. Mais uma ideia nova, inédita.

Congresso Nacional (Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo)Congresso Nacional (Imagem: Givaldo Barbosa / Agência O Globo)