“A vida me oferece muito mais inspiração do que eu possa dar conta”, diz Marina Colasanti

O encontro de um ninho com dois filhotes de pombo resultou na prosa poética “Breve História de um Pequeno Amor”, de Marina Colasanti, escolhido o livro do ano de ficção na 56ª edição do Prêmio Jabuti, a mais antiga premiação literária do Brasil.
Marina nasceu no norte da África, passou a maior parte da infância na Itália e veio para o Brasil ainda menina. Iniciou a carreira com as artes plásticas, logo descobriu a arte da palavra, caminho por onde trilha em diferentes rumos.
Crédito:Guilherme Loureiro
Marina Colasanti ganhou Prêmio Jabuti de livro do ano com obra infantil
Ficção infantil e juvenil, textos e ensaios jornalísticos, contos e minicontos para adultos, crônicas do cotidiano, poesia e memória são algumas das abordagens da autora, que reúne em sua biografia sucessos como: “Eu sozinha”, “Nada na manga”, “A morada do ser” e “Contos de amor rasgados”, dirigidos ao público adulto.
A primeira obra infantil foi “Uma ideia toda azul”, publicada em 1979. Mais tarde, deu vida à “Doze reis e a moça no labirinto do vento”, “O lobo e o carneiro no sonho da menina”, “Um amigo para sempre”, “Intimidade pública” e “Entre a espada e a rosa”.
À IMPRENSA, Marina fala sobre a premiação, como foi a produção de sua mais recente obra, como avalia a incursão jornalística na literatura, suas inspirações e os desafios do mercado infantil.
IMPRENSA: Como foi ganhar mais uma vez o maior prêmio da literatura brasileira?
Marina Colasanti: Foi uma surpresa absoluta, muito emocionante. Embora já tivesse ganho um Livro do Ano com obra juvenil, nem me passou pela cabeça que fato tão raro pudesse se repetir. Sempre achamos — e não sem razão — que ao competir com obras “adultas” os infanto-juvenis não são considerados do mesmo patamar. Neste sentido, o prêmio foi uma vitória pessoal e, mais do que isso, uma conquista para o gênero.
Quando surgiu a ideia de produzir o livro que lhe rendeu o prêmio?
Já havia pensado em trabalhar nessa história há algum tempo, mas a intenção acabava sempre sendo desviada por outros projetos. Entretanto, durante um congresso em Barcelona, falei dela com minha amiga e editora, a escritora colombiana Yolanda Reyes, que carinhosamente exigiu fosse transformada em livro. De volta ao Rio, obedeci.
Crédito:Divulgação
Obra de Marina Colasanti reúne poesia para crianças
Como avalia a incursão dos jornalistas na literatura atualmente?
Laurentino Gomes ganhou o Livro do Ano de não ficção. E esta já seria uma resposta. Quando comecei na profissão, jornalismo era o ganha pão da grandíssima maioria dos escritores. Se fosse fazer uma lista de escritores jornalistas daquele tempo, não haveria espaço suficiente. Eu própria casei com um deles, Affonso Romano de Sant’Anna, que conheci na redação quando ambos trabalhávamos no Jornal do Brasil e já tínhamos livro publicado. Hoje, o mercado oferece variantes, houve um expandir-se da publicidade, aumentou o campo de assessoria de imprensa e, sobretudo, a área de roteiro está abrigando muitos jovens escritores.
Qual é o desafio de escrever obras para o público infantil?
Escrever livros para crianças pode não ser nenhum desafio, basta contar uma história insípida, manter uma linguagem chã, e dar conselhos moralistas ou ecológicos no final. O mercado infantil, como o adulto, aceita muito lixo. O desafio é escrever literatura para crianças, com histórias densas, linguagem rica e multiplicidade de significados. Mas para isso, basta ser escritor e acreditar fundamente na sensibilidade dos pequenos.
Como foi trabalhar no Jornal do Brasil?
Estupendo! Entrei sem saber nada de jornalismo, saí 11 anos mais tarde com a sensação de ter aprendido tudo. No segundo caderno, o então famosíssimo Caderno B, fui redatora, chefe de reportagem, secretaria de texto, ilustradora, pauteira, colunista social, sub editora e, sobretudo, cronista. Devo à crônica ter feito a passagem para a literatura.
Sente falta de trabalhar com jornalismo?
Não, porque ainda trabalhei muito em revistas e em televisão, e ao longo da vida tenho entrado e saído de jornais, como cronista. No momento escrevo crônicas semanais para o meu blog. E há muitos anos já, minha atividade literária não me permitiria a permanência diária em redação. Jornalismo, porém, não é só trabalhar em órgão de imprensa, é uma maneira adquirida de encarar o noticiário e de analisar os fatos. Essa pode ser indelével.
O que a inspira para escrever?
A vida me oferece muito mais inspiração do que eu possa dar conta.

 

 

PortalImprensa/Alana Rodrigues