Quando lavar as mãos é imperdoável

Carlos Chagas

 Em entrevista do outro lado do mundo, na Austrália, declarou a presidente Dilma que sabia das investigações da Polícia Federal a respeito de irregularidades na Petrobras. Mesmo que tenha autorizado a Operação Lava-jato a continuar, seria o óbvio. Como evidente, também, que exigisse a demissão de diretores da estatal envolvidos na lambança, apesar dos elogios que alguns deles receberam pelo tempo de serviço prestado.

O que se estranha nessa novela de horror é a participação de figuras de importância do PT, PMDB, PP e adjacências na roubalheira sem que nenhuma atitude tenha sido tomada pelos ocupantes maiores do poder. Porque nem Dilma nem o Lula se preocuparam em passar o rodo nos partidos de sua base. Assim como no mensalão,tesoureiros e dirigentes variados continuaram ocupando funções relevantes, assim como parlamentares permaneceram incólumes recebendo dinheiro sujo de empreiteiras e de diretores da Petrobras. Quer dizer, a faxina não chegou ao quintal do palácio do Planalto.

Nem a presidente nem o antecessor terão recebido parte do que foi roubado, muito menos se beneficiado das operações de compra e venda de mandatos e de consciências. Mas estavam no controle do poder público quando tudo aconteceu. No mínimo, deveriam ter posto a boca no trombone e denunciado os primeiros resultados das apurações. Como a lama respingava na base parlamentar do governo, preferiram ficar calados, deixando tudo correr a cargo da Polícia Federal, do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário. Mais ou menos como se um assalto ocorresse na esquina e apenas aguardássemos a chegada da polícia, como se nada nos dissesse respeito, ainda que o assaltado fosse nosso vizinho.

Esse costume de lavar as mãos vem de muito antes de Pôncio Pilatos, mas a História mostra-se imperdoável diante do personagem.