Dilma e Lula separados por Gilberto Carvalho

Passaram-se 24 horas da escandalosa entrevista concedida pelo Secretário-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, não apenas criticando, mas anarquizando Dilma Rousseff, e nada aconteceu. Está para acontecer, é claro, mas até agora, nada.

Falando à BBC-Brasil, o maior representante do Lula no governo disse que o diálogo da presidente com a sociedade civil “foi deficiente nos últimos quatro anos”. Ainda que diante da contradição de ser ele o encarregado de dialogar com a sociedade civil, a pontaria foi certeira no parágrafo seguinte: Dilma não manteve as mesmas relações que o ex-presidente Lula com os principais atores na economia e na política e não conseguiu atender as demandas dos movimentos sociais.

Foi mais cruel: “a reforma agrária e a questão indígena avançaram pouco. A reforma urbana não foi o que os movimentos esperavam.” No final, ainda vibrou o tiro de misericórdia: “não avançamos porque faltou competência e clareza”.

A quem, cara pálida?

Admite-se que o PSDB ou o cidadão comum assim se pronunciassem, até com muita razão. Mas alguém com gabinete ao lado da presidente da República, o mínimo a esperar seria a carta de demissão. Ou a própria, sem carta.

Gilberto Carvalho representa o Lula no palácio do Planalto. Não dá para aceitar que sua entrevista aos ingleses não tenha sido do conhecimento prévio do ex-presidente. Com a respectiva autorização.

As críticas do ministro marcam óbvia alteração nas relações entre o criador e a criatura. Faz muito que se registram sinais do distanciamento entre Dilma e Lula, apesar das tentativas de ambos para permanecer unidos. Agora, porém, abrem-se as portas senão do rompimento, ao menos da separação.