Setoristas de política apontam caminhos para evitar armadilhas na cobertura eleitoral

início da propaganda em rádio e TV é um momento de massificação das campanhas. Por essa razão, nas semanas e dias que antecedem essa fase, os jornalistas ficam atentos sobre como pode ser a estratégia dos candidatos nos meios eletrônicos. Quando as propagandas começam, é importante saber de que forma comparar os conteúdos de cada uma.
No espaço do horário eleitoral – que tem início em 19 de agosto –, os candidatos tentam potencializar o noticiário tradicional. Em face dos tradicionais ataques e polêmicas da disputa, os setoristas têm de monitorar diariamente tudo o que acontece, porque um furo ou uma barriga podem estar na próxima esquina.
Crédito:Divulgação
Kennedy Alencar

Nos últimos anos, as campanhas saíram das ruas e foram para a TV e para as redes sociais. Há a guerra virtual e a guerra da propaganda na TV. A Justiça Eleitoral restringiu o uso de artistas, que atraíam grandes multidões aos comícios, que continuam a ser realizados com estruturas gigantescas, mas muita gente mesmo só em cima do palanque e claques organizadas embaixo, com bandeiras mais à frente, para a captação das imagens que são usadas nos programas de TV. O contato do candidato com o eleitor também se dá em grandes carreatas e caminhadas.

Os setoristas
A agenda política domina a pauta do noticiário “completa e quase absolutamente”, diz Maria Lima, repórter do jornal O Globo. Além do horário eleitoral, os candidatos se movimentam muito em caminhadas, carreatas e comícios por todo o País. “É quando acontece o vale-tudo e os chutes abaixo da cintura. E o setorista, filtrando as baixarias, tem que reproduzir e noticiar esse tiroteio”, explica.
“O jornalista deve ter capacidade de discernimento. Deve acompanhar todas as atividades, preferencialmente estando presente”, comenta Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo. “Mas, ao sugerir ao editor o que publicar, o setorista de uma campanha deve ter capacidade de separar o que tem interesse a todos os eleitores e o que só interessa ao candidato”.
Para Kennedy Alencar, comentarista da CBN e SBT, “os jornalistas ficam na pilha muito antes dos eleitores. Eles estão cobrindo as eleições há um ano porque é parte do trabalho”. “Em meados de agosto, quando começa o horário eleitoral e as pessoas começam a se dar conta de que haverá eleição, os repórteres já estão enfronhados na disputa há muito tempo”, complementa o editor de política do jornal O Estado de S. Paulo, Conrado Corsalette.
Fugir do declaratório e tentar mostrar personagens com um texto diferenciado também é importante em fases mais avançadas da campanha. “Os discursos passam a ser repetitivos e, no final, quando começam, você já sabe de cor e salteado o que vão dizer”, diz Maria. Segundo Corsalette, se um jornal fica só a reboque do que querem os candidatos, ele perde a relevância. “Para sair do chamado ‘declarol’, é preciso ter uma boa bagagem cultural e o conhecimento profundo do assunto que se cobre. Boas sacadas e associações de temas que, a princípio, parecem desconexos, só ocorrem quando se tem essas qualidades”, completa.
“O repórter não pode fugir dos fatos. Se o candidato está extrapolando, usando a máquina pública ou recurso público na campanha, por exemplo, não pode deixar de denunciar, fotografar e pedir explicações dos responsáveis, só para não ficar mal com o candidato que está cobrindo. Também não pode ficar com medo de fazer as perguntas incômodas quando necessárias”, completa Maria.
Os candidatos
É no horário político que os candidatos se mostram ao País, que entram na casa de cada vilarejo e nas grandes metrópoles. É quando os marqueteiros entram em cena para disputar quem produz o melhor vídeo, com as melhores imagens, que embalam as propostas e feitos de governo para conquistar o eleitor.
Crédito:Sérgio Marques/O Globo
Maria Lima

Maria Lima garante que é difícil não trombar com integrantes dos comandos das campanhas ou com o próprio candidato até o final da eleição. “Seja por mostrar uma saia justa durante uma caminhada, seja por derrubar números ou promessas apresentadas, ou por fazer matérias sobre vaias, um comício fraco, denúncias de irregularidades ou até mesmo o envolvimento do candidato em algum escândalo”.

Na atual campanha pela Presidência da República, todos os candidatos dizem que manterão ou até ampliarão a política de reajustes reais para o salário mínimo. “Mas nenhum explica como vai resolver o problema da Previdência, cujo rombo aumenta todas as vezes que o salário mínimo tem reajustes acima da taxa de inflação”, explica Fernando Rodrigues. De acordo com ele, é dever de um jornalista, quando pergunta sobre o salário mínimo, emendar com um questionamento sobre a Previdência Social.
“Se o candidato apenas enrolar e não quiser responder, é necessário apontar isso na reportagem”. Para Corsalette, “os candidatos costumam recorrer muito às generalizações para adaptar a realidade aos seus discursos. Nem sempre a informação colocada nos programa de TV está incorreta, mas é parcial ou não dá conta da realidade.
Mas, o que esperar? É marketing. É aí que entram os jornalistas”. Rodrigues acrescenta que partidos políticos e candidatos esconderem as principais informações dos jornalistas é uma prática comum durante as eleições. “Essa é sempre uma dificuldade na cobertura: descobrir a agenda completa do candidato e dos coordenadores; saber quem são os principais doadores e conhecer o conteúdo dos programas de TV com alguma antecedência para poder analisar de maneira mais alentada”, avalia.
Outro erro frequente das campanhas é o eterno retorno ao passado, sempre apontando um defeito de um adversário em anos anteriores. “A eleição é sobre o futuro. O eleitor é pragmático, ele quer saber o seguinte: o que o candidato A, B ou C fará para melhorar a minha vida daqui para frente”, diz o comentarista Kennedy Alencar.
Essa visão é compartilhada por Kauê Diniz, editor do Diário de Pernambuco, que aponta outro problema. “Eles terminam não sendo tão propositivos. Ficam muito nessas guerras pessoais e não apresentam coisas que realmente a população queira”.
Saias justas
Os jornalistas que cobrem a campanha no dia a dia precisam estar bem informados sobre o que se passa a cada minuto na campanha. O setorista (ou “carrapato”, como se diz em alguns jornais) de um candidato deve estar preparado para responder a qualquer momento sobre a localização do político, o estado das alianças partidárias, o posicionamento nas pesquisas eleitorais. Ele precisa procurar ser o jornalista mais bem informado sobre o seu candidato na cobertura.
“Por tudo isso, a ‘saia justa’ ou o constrangimento a ser evitado é não saber de uma determinada atividade de campanha, sobre um encontro reservado ou não conseguir perceber alguma mudança de rumo no discurso do candidato”, diz Rodrigues. Segundo Kennedy Alencar, a principal saia justa para o candidato é o debate eleitoral na TV, “porque é o momento que o candidato tem menos proteção, quando ele está mais exposto”.
“Quando chega o horário eleitoral, apesar das regras no Brasil serem muitas engessadas, ainda é o momento em que ele está muito inseguro”, diz. “É preciso evitar esse ‘disse me disse’, de um acusando o outro, do outro acusando o um. Você tem a responsabilidade de escutar e saber a relevância daquilo; vai entrar no texto, de alguma forma, mas não o principal”, aponta Diniz. A principal saia justa para o repórter que está cobrindo, seja na reta final, seja no aquecimento do jogo, é sempre o equilíbrio e a isenção, já que todas as campanhas têm uma embalagem de marketing, de destacar as qualidades e esconder os defeitos.
Redes sociais
A cobertura das campanhas presidenciais deste ano terá um componente novo e de efeito ainda totalmente desconhecido e incontrolável: as redes sociais estão abrindo um universo ilimitado para todos os candidatos, principalmente para os que têm pouco tempo no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.
Para Maria Lima, “isso significa que o setorista de cada candidato, terá que dormir e acordar monitorando páginas de partidos, candidatos e coordenadores de campanhas no Twitter, Facebook; além de blogs e sites interligados”.
“É um ambiente que você tem um controle do que diz. Não está lidando com um jornalista fazendo uma pergunta, é um ambiente que você tem maior controle do conteúdo que quer publicar, informar”, diz Kennedy. As redes sociais, ao mesmo tempo em que pulverizam a informação, são um ambiente que ainda hoje cada candidato tem muito controle do seu uso. “As redes são importantes, mas ainda não têm o peso dos programas de TV”, completa Corsalette.
Tempo dos candidatos
Crédito:

O Tribunal Superior Eleitoral divulgou, em 10 de julho, uma estimativa do tempo na televisão e no rádio que cada um dos presidenciáveis terá no horário eleitoral deste ano. A presidente Dilma Rousseff (PT) – que concorre à reeleição – terá direito a 11 minutos e 48 segundos por dia. O senador Aécio Neves (PSDB) deve ter 4 minutos e 31 segundos, enquanto Eduardo Campos (PSB) ficará com um minuto e 49 segundos.

O restante do tempo ficou dividido entre o PSC, do Pastor Everaldo (um minuto e oito segundos); PV, de Eduardo Jorge (um minuto e um segundo); PSOL, de Luciana Genro (51 segundos); e Eymael, do PSDC (47 segundos). Os candidatos Levy Fidélix (PRTB), Zé Maria (PSTU), Mauro Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) terão 45 segundos para expor suas ideias.
Com os 11 minutos e 48 segundos, Dilma ocupará quase metade do horário eleitoral gratuito. Além dos programas em blocos, os presidenciáveis terão o direito de exibir inserções durante a programação.
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