* Por Ricardo Coelho
O Brasil perdeu precocemente o ex Governador Eduardo Campos, uma liderança proeminente, natural e inconteste, tinha estrela ou era constelação o tempo dirá, ele era brilho onde esteve e por onde passava. Com talento e carisma únicos, na política encantava, conquistava. Tive a honra de recém formado ser assessor especial do Governador Miguel Arraes, sendo Eduardo seu Chefe de Gabinete, ele já casado com uma prima muito querida e politicamente atuante, minha querida Renata Campos.
Convivi com Eduardo Campos na adolescência quando fazíamos política estudantil contra a ditadura militar ele no diretório acadêmico de economia, eu no de Direito. Depois veio a redemocratização, a eleição de Miguel Arraes e a sua ascensão meteórica na carreira pública. Ingressei no Ministério Público onde, constitucionalmente, ficamos proibidos de ter militância política.
Tive a alegria de ouvir do meu pai, de ler em seus livros, sobre o espírito público de Miguel Arraes de Alencar O meu pai que foi seu Procurador geral, Secretário de Estado e Chefe da Assessoria Especial, Deputado Federal do MDB fez oposição a ditadura militar, sempre destacou com admiração que Arraes nunca deixou de fazer opção pelos mais humildes.
Eduardo seguia esta linha, nunca deixou de ser um Arraes, embora a violência da ditadura tivesse castrado este nome de seu batismo.
Tive alguns momentos agudos na carreira onde estive defendendo as teses do Ministério Público tendo no lado oposto o Estado governado por Eduardo, em todas as vezes assisti com inacreditável grandeza Eduardo Campos vergar, em favor do justo, do honesto, do bem, confesso que não me surpreendi, apenas sorri, pois sabia do sangue que corria naquelas veias, lá estava um político forjado nas melhores tradições e que nunca esteve do lado errado.
Governou um Estado pobre e que detinha os piores índices de desenvolvimento humano. Mudou uma realidade, quase sina. Pernambuco deixou de ser escória, passou a ser modelo de desenvolvimento. Montou uma equipe competente, cercou-se dos melhores quadros, não tinha medo de sombra. Repetia sempre que só os medíocres cercam-se de medíocres.
Como governador Eduardo teve a grandeza de abraçar desafetos, ele não guardava mágoas ou ressentimentos, era muito maior que isso, sempre esteve acima, renovava suas forças para prosseguir na luta numa família linda, forte, completa, unida, cristã. Abria mão de tudo para estar perto de sua Renata, José, Pedro, João, Duda, Miguel, seus amores e fonte de inspiração para caminhar com uma ternura que era só sua.
Nunca perseguiu adversário, foi solidário, tinha grandeza e a exata noção do cargo que ocupava. Homem público, vocacionado que era, compreendia bem a necessidade de se transformar as realidades pelo exercício da cidadania. Materializava o pensamento imortal de Miguel Arraes, cujo sangue e ideários, repito, mantinha íntegro nas veias.
O verdadeiro desafio do político está em servir a sociedade sem servir-se dela. Causa estranheza a quem não o conhecia que Eduardo residisse no quintal de sua sogra e não tivesse patrimônio ou fortuna depois de ser Secretário, Deputado, Ministro, Governador, uma exceção à regra em um universo onde as fortunas se multiplicam de forma inexplicável, políticos se tornam senhores feudais e se locupletam.
Sua predestinação essencial era ser do bem e agir com ética, acreditar num Brasil melhor onde viveriam seus cinco filhos, incluindo o pequeno Miguel “nascido na família certa”, pois lá só havia amor. Eduardo fazia as suas refeições de mãos dadas com Renata e não trocava nada por isso. No glamour da vida pública nunca se desviou dos valores da família, nunca se levantou nada contra ele.
Só quem é pai e tem amor no coração sabe o que é isso. Eduardo lutava incansavelmente por um Brasil melhor, quimera do impossível, dadas as estruturas atuais, mas ele acreditava na luta, sempre foi um lutador e repetia que a força o povo era incontrolável, afinal ele e seu avô haviam vencido estruturas indeléveis ao lado dos mais humildes.
Para encerrar, valho-me das palavras do poeta revolucionário Maiakovski, que dizem muito da CORAGEM e determinação com que todos os homens de bem e predestinados atuam na busca dessa almejada JUSTIÇA:
Por enquanto há escória de sobra.
o tempo é escasso mãos a obra.
Primeiro é preciso transformar a vida,
para cantá-la em seguida.
Ou ainda lembrando os versos de Maximiano Campos, seu pai, brindando, talvez predizendo a chegada de seu filho no poema “O filho”:
Que seja assim:
alegre sem desconhecer a tristeza,
capaz de uma ilusão.
Forte sem apedrejar derrotas,
rebelde,
sem destruir a mansidão.
Servo apenas do ideal e sonho,
e rei de sua vontade.
Amando as pessoas sem deixar
que nenhum medo
o faça desconhecer a liberdade.
Com a sua luta pela cidadania, ele concretizou o sonho de muitos, por isso podemos falar no legado de cidadania deixado por Eduardo Campos. Que o seu exemplo sirva de reflexão e de inspiração as gerações de brasileiros. Fique com Deus meu querido primo e amigo Eduardo Campos.
*Promotor de Justiça. Professor Universitário. Doutor em Direito Público