Rainha de um reino inexistente

Carlos Chagas

Preocupa  o PT o aumento do índice de rejeição da presidente Dilma, estimado em 47% na última pesquisa do Ibope. O número  supera o das   preferências, estagnadas  em 38%. As esperanças do partido são  de que a popularidade  crescerá a partir da propaganda eleitoral gratuita, em agosto.  Conseguirá reduzir o número negativo, até outubro?

Todo presidente da República  desgasta-se quando chega e exerce o poder. Fernando Collor, Fernando Henrique, o próprio Lula e Dilma Rousseff são exemplos recentes. Como exceção, destaca-se o saudoso Itamar Franco, que aterrissou no  palácio do Planalto de surpresa, de mãos abanando, sem nada que alimentasse as expectativas nacionais. Saiu elegendo o sucessor e sob os aplausos gerais,  não apenas por conta do Plano Real, mas por  haver adotado postura inflexível diante da corrupção.

Dilma assumiu bafejada pelas realizações sociais dos  oito anos do Lula e pela postura   de gerentona que,  além de   desenvolver a melhoria de vida das classes menos favorecidas,   passaria o rodo nas mazelas deixadas pelo antecessor. Até que começou bem, não poupando os caciques dos partidos incrustados na aliança costurada pelo primeiro-companheiro para garantir maioria parlamentar.  No primeiro momento viram-se catapultados  líderes de  partidos,  como o PR, o PDT e o PTB,   ministros como  os do Turismo e  da Casa Civil, além de   empresários e líderes sindicais flagrados em malfeitos.

A presidente, porém,  perdeu-se nos meandros do próprio ego  e nos compromissos herdados do Lula. Nunca havia disputado uma eleição, nenhuma aproximação tinha e continuou sem ter com o Congresso e com o povão. Desdenhou  da imprensa, dos governadores e de seu próprio partido.  Espalhou  o terror junto a seus  auxiliares pela forma de  como os tratava.  Isolou-se. Comportou-se feito  rainha de um reino inexistente.

Tudo chegou à opinião pública. Vieram as primeiras vaias,  ela não entendeu.   Imaginou  que distribuir benesses  e implementar ainda mais  o assistencialismo bastariam para reforçar o pedestal onde se refugiou. Ignorou a lição  de que,  nos tempos atuais,  o monarca precisa freqüentar os súditos. Ao menos dar a impressão de ser um deles.

O resultado aí está. Uma rejeição dos diabos, gerada pela presunção. Até o segundo mandato anda balançando.