A reportagem mostra, por exemplo, que durante a primeira entrevista a equipe flagrou uma menina nova com um homem muito mais velho, ligou para o Conselho Tutelar e falou com policiais que estavam próximos – sem sucesso. Além disso, o texto relata visitas a danceterias que ficavam em frente a uma delegacia e como em Canoa Quebrada, onde a situação parece mais crítica, a repartição de segurança pública fica no fim da rua dos locais onde tudo acontece.

“Esperamos jogar luz sobre esse assunto, porque a Copa do Mundo está chegando e o objetivo de tudo isso é alertar as pessoas e as autoridades para algo que já está acontecendo”, afirma Andrea, repórter especial da Pública.
Segundo ela, a repercussão tem sido muito boa; mas ela gostaria de fazer o mesmo nas demais cidades-sede da Copa. “Adoraria, mas este foi um projeto muito grande e demorado. Focamos na cidade onde a situação é mais grave. Infelizmente, não teríamos tempo hábil”, lamenta.
O quadrinista editou HQs de 1999 a 2009, quando se tornou sócio do site Catraca Livre. Ele lançou em 2006 sua primeira revista do gênero com o escritor Ferréz, com quem também fez o livro “Desterro”, em 2013. Atualmente, ele é gerente de tecnologia do site e professor de um projeto social em Heliópolis, zona sudeste de São Paulo.
Durante a apuração, ambos tomaram notas e conversaram sobre as “cenas” que entrariam na matéria. As fontes dos desenhos foram registradas por celular ou presenciadas em situações controversas pelos autores.
“A linguagem dos quadrinhos potencializa o poder de uma matéria investigativa, além de ter recursos visuais oportunos para essa pauta, como esconder a identidade das pessoas”, explica De Maio.
Andrea acredita ainda que o formato aproximou a pauta do leitor. “É como se ele participasse de todo o processo de apuração, das conversas e da caminhada com os repórteres”.

Orientações, riscos e problemas
A série “Meninas em Jogo” foi a primeira na qual Andrea e De Maio trabalharam com o tema violência sexual contra crianças e adolescentes. Diante da pauta, eles foram orientados por organizações especializadas na questão, pela própria Pública e pela ANDI, realizadora do Concurso Tim Lopes.
Os direcionamentos deixaram a equipe mais segura e ajudaram a minimizar os riscos. Durante a investigação, não sofreram nenhum tipo de ameaça, mas enfrentaram dificuldades pela falta de dados e números, a desorganização por parte de alguns órgãos oficiais e a “falta de vontade” das entidades em responder às solicitações de entrevistas.
“Nossa maior preocupação durante as investigações foi não abordar as meninas nas ruas para não colocá-las em risco ou em um processo de revitimização. Essa é uma discussão polêmica e fica em uma linha muito fina. Tento focar sempre no objetivo principal, que é denunciar o sofrimento humano e o que o está causando”, diz Andrea.
Pai de três filhas, De Maio definiu as cenas que viu como “revoltantes”, mas manteve a consciência de seu papel como jornalista. “Acredito que a divulgação da matéria e um trabalho mais amplo como esse é um forma mais eficaz de contribuir com o tema”, afirma.