por Flávio de Mattos
Em uma tarde de 1966, Tom Jobim estava sentado no Veloso, o famoso bar que hoje se chama Garota de Ipanema, quando o garçom lhe chama do balcão e avisa: “Seu Tom, telefone para o senhor. É o Frank Sinatra”.
Tom Jobim hesitou em ir atender, pensou que era trote, de algum de seus amigos gaiatos. Contudo, quando chegou lá, para sua surpresa, do outro lado da linha, a voz inconfundível de Sinatra, com o convite: “Quer gravar um disco comigo?”
Assim nasceu o álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim.
O disco foi gravado em três sessões, com mais de dez horas cada uma, nos dias 30, 31 de janeiro e primeiro de fevereiro, de 1967. Os temas foram escolhidos por Sinatra, entre as canções de Jobim, que ele já conhecia. Os arranjos e a orquestra foram conduzidos pelo maestro alemão Claus Ogerman.
Sinatra e Tom tornam-se grandes amigos. Cantaram juntos na televisão americana, enquanto Garota de Ipanema, que abria o disco, se consagrava como um hit mundial.
Dois anos depois, em 1969, Frank Sinatra convida Tom Jobim para gravar um novo disco. Os arranjos ficaram a cargo de Eumir Deodato, o então jovem maestro brasileiro, com apenas 26 anos. O álbum, no entanto, nunca foi lançado. Sinatra não ficou nada satisfeito com seu resultado final.

Três das peças do repertório, ele dizia que não tinham “a cara de Frank Sinatra”. EramSabiá; Desafinado; e Bonita. Sinatra desenvolveu especial implicância com Desafinado, por causa da letra em inglês, achava esquisito dois homens cantando juntos uma canção de amor.
O disco se chamaria SinatraJobim. Na capa, Frank Sinatra aparecia encostado em um ônibus da Greyhound, no meio da “floresta amazônica”. Surreal demais para seu gosto, a floresta fake foi a gota d’água e o projeto foi cancelado.
Algumas das gravações feitas para esse álbum foram parar em um disco obscuro chamado Sinatra and Company, editado em 1971. No lado A do vinil, a música de Tom Jobim, no lado B, arranjos de Don Costa para músicas de elevador, todas, merecidamente, esquecidas.
O disco foi distribuído sem nenhum lançamento. Uma pena porque as interpretações de Sinatra e Jobim para Água de beber, Wave e Estrada Branca, são maravilhosas. Se tivesse sido bem divulgada em seu momento, a versão de Sinatra para Wave talvez se tivesse tornado uma referência definitiva para o belíssimo tema de Tom Jobim.
Somente em 2010, as três canções vetadas anteriormente por Frank Sinatra foram publicadas em cd. Naquele ano, o selo Concorde lançou Sinatra Jobim – The Complete Reprise Recordings.
Com a edição remasterizada das gravações, vemos que o veto de Sinatra foi resultado de um excesso de zelo. Basta ouvir sua interpretação para Bonita, simplesmente, linda. Agora, aquela capa, era, realmente, espantosa.
fonte:blogdonoblat