Crônica de uma vida dedicada

Heródoto Barbeiro (Blog)

Gabriel García Márquez deixou muitas lições. Contudo foi para os jornalistas que Gabriel deu a maior contribuição. No livro Crônica de Uma morte Anunciada ele conta, na forma de uma reportagem, a história do assassinato de Santiago Nasar pelos irmãos Vicário. É uma verdadeira aula. O livro começa com aquilo que os jornalistas chamam de lead, ou seja, o fato mais importante de uma reportagem. Logo no início se fica sabendo que Santiago vai morrer e isso, ao invés de desestimular o leitor a continuar lendo, afinal, ele conta o desfecho da história, prende o leitor até a última letra.

Esta qualidade do prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez, é o que todo jornalista sonha. Contar uma história que prenda a atenção até o seu final. Para isso é necessário ouvir as fontes. Mais de uma. Ficar atento porque as versões são diferentes e todos os entrevistados acham que estão dizendo a verdade. Acima de tudo é preciso respeitar a opinião alheia e duvidar ao mesmo tempo. A dúvida é uma necessidade ética, não um descrédito. No livro, ainda que a história seja uma ficção, há um passo a passo na construção de uma reportagem.

Jornalistas jovens e velhos não podem deixar de ler. Há inúmeras outras contribuições que García Márquez deixou para a literatura latino-americana. Mas as lições de jornalismo no Crônica de Uma Morte Anunciada são universais. Valem para qualquer  jornalista, em qualquer parte do mundo. Ao se acompanhar o desenrolar da tragédia de Santiago Nasar é possível ver o sangue e o estertor dele contado por várias fontes e entender por que Gabriel dizia que a vida é uma sucessão contínua de oportunidades

ACRESCENTO AINDA  –  FRC – O momento em que os Vicário matam Santiago Nasar é realmente singular, mas não vou revelá-lo por completo, aos possíveis futuros leitores do livro. Assim, fico a destacar o momento em que Pablo Vicário lhe deu uma facada no ventre e “os intestinos completos afloraram como uma explosão”. Alucinado, Santiago Nasar caminha “amparando com as mãos as vísceras penduradas” e, ao ser perguntado sobre o que lhe havia passado, ele apenas responde: “Me mataram (…)”.

Todas as pessoas sabiam que Santiago iria ser assassinado (menos ele próprio), e ninguém teve a coragem de contar a ele. Isso é uma grande crítica ao mundo atual, onde a covardia fala mais alto, e onde todos as pessoas são os assassinos, pois o crime poderia ter sido evitado.E mais ainda,diria aqui,que há no mundo de hoje,pessoas frias e calculistas que praticam ,silenciosamente, com o seu sentimentos numa “freezer”,pois frios levam sua vida embora decorem palavras e frases solidárias e fraternas e não passam de planejar prisões e mortes,dos indefesos que não seguem sua cartilha.E quando não podem fazê-lo a alguém,pela repercussão social e reveladora autodestruição a colocam no limbo das migalhas.Por isso que a literatura existe.É para salvar-se no realismo mágico do discurso das metáforas.Escrever é existir.