“A imprensa tem que ter consciência de que é livre”, diz Flávio Tavares

Preso político pela ditadura militar em 1969; libertado em troca do embaixador norte-americano Charles Elbrick em seguida; forçado a se exilar fora do País, preso novamente em 1977 acusado de espionagem e, finalmente, anistido em 1979. A experiência do jornalista Flávio Tavares nos anos de repressão à ditadura militar torna-o uma das mais importantes testemunhas da luta pela liberdade e pela democracia em nosso país.
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Flávio Tavares lança livro sobre o golpe militar de 1964
Às vésperas de completar 80 anos de idade, Tavares lança em março seu quinto livro: “1964 – O Golpe”. A obra apresenta os bastidores da chegada dos militares ao poder, quase meio século atrás, com base em documentos reveladores e em suas próprias lembranças, ainda vivas.
“Memórias do Esquecimento”, sua primeira publicação, foi vencedora do Prêmio Jabuti no ano 2000, na categoria de melhor reportagem. Depois disso vieram “O Dia em que Getúlio Matou Allende” (2004, também premiado), “O Che Guevara que Conheci e Retratei” (2007), o roteiro do documentário “O Dia que Durou 21 Anos”, dirigido por seu filho Camilo Tavares (2012); e “1961 – O Golpe Derrotado”, seu trabalho mais recente.
“Sob certos aspectos, ‘1964’ é uma sequência de ‘1961, o golpe derrotado’. […] Mas, de fato, é um novo livro, diferente em diversos outros aspectos. Nele eu faço uma reconstituição do ambiente que leva ao golpe, inclusive anterior a 1961”, afirma o jornalista, citando os documentos que a obra apresenta e comprovam o envolvimento dos Estados Unidos no golpe militar.
Para Tavares, é importantíssimo que o povo brasileiro não perca a memória dos chamados “anos de chumbo”. “A sociedade não pode esquecer porque foi o golpe mais duro que a população e o desenvolvimento do país já receberam. Nunca tivemos uma ditadura tão longa, um governo tão autoritário e um regime que praticava tantos crimes nas sombras”, diz.
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Obra explica participação dos EUA no golpe
Como jornalista político, Tavares testemunhou entre as décadas de 1960 e 1980 as principais manifestações, marchas e comícios da época. Para ele, porém, aqueles protestos em nada lembram os que vemos hoje em dia.
“Não há nenhuma semelhança entre os protestos daquela época e os de hoje. Eles eram preparados e os atuais nem se sabe quem prepara. São até anárquicos, a tal ponto que permitem que, seja lá quem for, infiltre vândalos que vão depredar, destruir vitrines, coisas assim. Antes eram protestos organizados de cima para baixo, agora são manifestações de rua que se contrapõem a coisas concretas, como a corrupção e o aumento das passagens. Naquela época era contra o ‘comunismo’”, afirma o jornalista.
Marcado pela perseguição e pela tortura sofrida na prisão em tempos de ditadura, Tavares é hoje capaz de identificar facilmente os primeiro sinais de ameaça à liberdade de expressão. Segundo ele, é possível notar que o direito da população de se manifestar tem sido perigosamente ameaçado pelo Estado.
“Está havendo agora uma forte repressão à liberdade de manifestação. Muitas vezes por parte da polícia, por conta de baderneiros infiltrados. Mas o que nós temos que reprimir é o crime, os vândalos infiltrados. Não os protestos”, afirma.
Por fim, Tavares diz que mesmo nos tempos atuais, os profissionais da imprensa não podem se omitir. Ele acredita que os jornalistas devem adotar uma postura apropriada para que tenham condições de trabalhar com liberdade e segurança.
“A imprensa tem que tomar atitudes independentes, o que muitas vezes não acontece. É a própria imprensa que tem que tomar consciência de que ela é livre. Se a imprensa se acovardar, ela está sendo movida por interesses políticos ou econômicos. A imprensa não deve temer nada”, conclui.

 

fonte:portalimprensa