O Estado de S. Paulo. Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, o coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu que o Exército Brasileiro montou uma farsa para esconder a morte do ex-deputado Rubens Paiva, que aparece na lista de mortos e desaparecidos do período da ditadura militar desde o dia 20 de janeiro de 1971. De acordo com o coronel, na noite do dia 21 de janeiro de 1971, ele e outros dois militares teriam recebido ordens de seus superiores para atirar na lataria de um Fusca e incendiá-lo em seguida, no Alto da Boa Vista. A montagem era para sustentar a versão oficial de que, ao ser transportado por militares, o ex-deputado foi sequestrado por terroristas, que atearam fogo no carro. Raimundo Campos disse saber que se tratava de uma operação para ‘justificar o desaparecimento de um prisioneiro’ e revelou, também, ter informações de que ele já estava morto. O depoimento do coronel reformado não é o primeiro que põe em xeque a versão oficial. Em 1986, o ex-tenente Amílcar Lobo, que foi médico do Exército Brasileiro, disse à Polícia Federal que tentou socorrer o prisioneiro – que, após torturas, estava em estado crítico. Vera Paiva, filha do ex-deputado, disse que ‘não há mais dúvida de que meu pai não é um desaparecido: ele foi assassinado e a cena do crime está ficando cada vez mais clara’. Quanto ao depoimento do coronel, ela disse que “a gente [a família] agradece. ‘É importante que mais gente faça isso. Interessa à família e ao país, onde casos de tortura continuam sendo abafados por essa lógica de não se falar nada’. |