Descaso com fiscalização é doença nacional (Editorial)

O Globo

Ser pouco depois das 9h, antes do horário permitido para veículos pesados trafegarem na via, não impediu que Luís Fernando Costa, motorista de um caminhão-basculante, entrasse, terça-feira, na Linha Amarela, na altura de Pilares. Poucos minutos depois, em velocidade equivalente à dos carros, Luís Fernando, com a caçamba levantada, derrubou uma passarela. Balanço da imprevidência: cinco mortos — quatro na hora —, feridos e o fechamento até o fim da tarde deste importante eixo de ligação entre a Zona Oeste (Barra, Jacarepaguá etc.), a Zona Norte e o Centro da cidade. Há investigações evidentes. Como sobre o que levou a caçamba a ser acionada e, além disso, por que Luís Fernando, mesmo a mais de 80 quilômetros por hora, não percebeu que havia algo errado. Ontem, ele próprio revelou que falava ao celular com um amigo, infração capitulada no Código de Trânsito.

A tragédia na Linha Amarela faz crescer a extensa relação de acidentes, e não apenas de trânsito, que ocorrem no país muito por falta de fiscalização, problema potencializado pela irresponsabilidade e sensação de impunidade que este vácuo incentiva.

Foto: Antonio Lacerda / EFE

Na Linha Amarela, onde há câmeras de vigilância e radares, não deveria ser difícil para a concessionária Lamsa e a polícia coibirem a circulação de caminhões fora do horário — ainda mais com caçambas alçadas. Mas fiscalização séria não é mesmo o forte neste país. Na mais perfeita tradução da imagem do cadeado na porta já arrombada, ontem pela manhã a PM apareceu e multou vários caminhões na via.

Este também é um costume nacional. No incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), no início do ano passado, enquanto se contabilizavam as duas centenas de mortos e os feridos, um furor fiscalizatório varreu o país e inspirou legisladores federais, estaduais e municipais a baixar normas, proibições, etc. Em vão, pois em muitos lugares continuam a faltar fiscais, e há regras baixadas no auge da repercussão do drama que insistem em continuar no papel.

 

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