Itamaraty contrata sem pagar

 

 

Na IV Conferência Brasileiros no Mundo, da qual participaram 90% de emigrantes pelegos e biônicos, convidados num hotel de luxo, na Bahia, nem brasileiro por sinal, mas de uma multinacional espanhola, só havia uma condição aos participantes – aceitarem prestar obediência aos diplomatas do Itamaraty.

E de bom grado aceitaram, pois para essa maioria, participar de uma Conferência oficial com o selo do Itamaraty, só é vantagem, nem entra em conta questões de independência ou obediência. Na verdade trata-se de um bom negócio, pois estão ligados ao grande mercado dos emigrantes e só podem aumentar seus lucros nessa parceria com os diplomatas.

Uns são despachantes, outros advogados de emigrantes, outros tradutores para emigrantes, outros ajudam mesmo a dar golpe de Estado em país vizinho, outros representam conselhos de cidadania onde participam antigos participantes do Doi-Codi e amigos de Pinochet e, enfim, outros estão empenhados na salvação das almas dos emigrantes. Mesmo se Cristo disse que seu reino não era deste mundo, eles tratam de já ir tirando aqui mesmo algumas vantagens, antes daquelas futuras e difíceis de provar.

Assim, a política brasileira da emigração continua sendo aplicada, custando caro pois o hotel de luxo e as passagens para os biônicos custou quase um milhão de reais, e não dando em nada, mesmo porque quando for necessário decidir alguma coisa, quem decidirá serão os diplomatas.

O Consulado de Genebra acaba de publicar um edital convocando os emigrantes para as próximas eleições do Conselho de Cidadania. E enumera quais serão as atividades dos futuros conselheiros, para no fim do edital lembrar que tais atividades serão voluntárias, ou seja, não existirá salário para esse pessoal.

Entretanto, lendo-se as tais atividades que incluem pesquisas, contatos com órgãos oficiais da Suíça, tomadas de iniciativas normalmente da alçada do Consulado, não se pode deixar de pensar que o Itamaraty encontrou a maneira de poupar seus diplomatas do contato com os emigrantes e do gasto de tempo e energia, servindo-se de alguns emigrantes bem intencionados, desejosos de fazer alguma coisa pelo próximo.

Mas se já falamos ter sido indecorosa uma Conferência com pessoas amigas dos cônsules locais, geralmente da classe alta e dificilmente podendo ser qualificada de emigrantes; de ser ofensiva aos emigrantes essa obediência devida aos tutores do Itamaraty, achamos um tanto imoral mesmo se pedir aos emigrantes que façam trabalho do Consulado, sem qualquer pagamento, aproveitando-se do entusiasmo de alguns idealistas.

É verdade que, não se pode esquecer, a maioria desses voluntários mamam no mercado dos emigrantes, seja em termos comerciais ou religiosos, ou ganham dinheiro com a terceirização dos serviços consulares. Portanto, para eles já é lucro pertencer a um órgão oficial funcionando junto ao Consulado. Isso dá prestígio, dá clientes e dá mesmo almas ao Criador.

Penso estar vivendo um pesadelo, me belisco e constato ser a realidade, essa palhaçada e essa política irresponsável da emigração é aplicada por um governo de origem petista. Tentei mais de uma vez pedir ao governo para intervir, já que o PT tinha aprovado em Havana, no seu encontro dos Núcleos petistas uma crítica severa ao Itamaraty, seguida da reivindicação de um órgão institucional emigrante, a Secretaria dos Emigrantes.

E ao terminar este 2013, sou obrigado a confessar de maneira pública minha decepção, frustração e mesmo revolta de tanta coisa longe daquilo que esperávamos do governo. Tentam me acalmar dizendo que a necessidade de alianças (pelo jeito espúrias) exige serem esquecidas certas questões básicas de esquerda e que, os emigrantes não são prioridade. Será que 2014 vai melhorar ? Estou pedindo ao Papai Noel, pelo menos mais visível que Deus que a gente nunca sabe onde está, que ilumine nossa presidenta, que dê asilo para o Snowden, senão depois daquela bronca na Assembléia geral da ONU, vai pegar mal negar. Que sejam demitidos do governo a Helena Chagas, da Globo, e o Paulo Bernardo, coveiros da mídia de esquerda.

E que alguém explique para dona Dilma que emigrante é emigrante e diplomata é diplomata, não são batatas do mesmo saco, têm genes diferentes. E que do Programa eleitoral Dilma2 conste a criação de um órgão institucional emigrante e o fim da tutela dos emigrantes pelos diplomatas. Que no seu programa não se cite como boa obra do seu governo a realização da Conferência Brasileiros no Mundo, no hotel de luxo com os biônicos. Porque daí, para mim e muita gente, será a gota d´água.

 

fonte:admindr