Exposição no MAMAM do Pátio“SORTERRO CAP. 4” com Juliana Notari

O projeto “SORTERRO CAP. 4” teve início com o registro periódico do processo de crescimento dos meus próprios pelos, que já não depilo desde janeiro deste ano. No decorrer do tempo e à medida que os pelos crescem, novos significados e possibilidades estéticas têm surgido em fotografia, desenho, vídeo e performance.
Muitas questões atravessam esse trabalho, que se insere no debate acerca do humano e do “pós-humano”. No cerne dessa discussão encontram-se os processos de autodesconstrução/reconstrução, que a transformação externa torna mais visível.

O corpo e a construção do gênero feminino são postos em cheque em “SORTERRO”. São questionados certos padrões de beleza nos quais os pelos não são admitidos. Os trabalhos, no entanto, abrem brechas para olhares ambíguos, uma vez que do informe do corpo piloso, que se desformaliza, um outro modo de perceber o corpo feminino ganha força. O pelo não denota uma tentativa de aproximação ao biotipo masculino nem automaticamente pode ser enquadrado na categoria do “feio”. A beleza do pelo pode representar a própria irrupção de uma outra estética feminina, na contramão do padrão dominante de beleza. Almejo, desse modo, caminhar em direção ao encontro de outro modo de pensar o que é o “belo” e o “feminino”. Nesse sentido, um bom exemplo das mutações culturais aludidas foi a recente mudança do olhar destinado à tatuagem – tida anteriormente como marca distintiva de grupos sociais específicos – que era vedada culturalmente às mulheres, considerada sinal de feiúra e vulgaridade.

O cabelo e o pelo desde sempre me despertaram interesse, em função do potencial simbólico que carregam – remetendo à animalidade e a certas forças originárias – assim como por permitirem uma flexibilidade para cambiar significados. Embora façam parte do corpo, os cabelos possuem significados que são diferentes daqueles que passam a ter após terem sido retirados (quando inspiram nojo, por exemplo). Essa insistência no retorno, na repetição, na impossibilidade de controle da aparição dos pelos, faz com que eles frequentem, no meu imaginário, a mesma região das pulsões, em um sentido psicanalítico.

O excesso de pelos, paradoxalmente, tem intensificado o meu sentimento de feminilidade, assim como o sentimento de possuir um corpo mais potente. À medida que o trabalho avança vai se construindo um intenso processo de autoconhecimento através da redescoberta do meu próprio corpo.

A presença dos pelos produzem sensações ambíguas. Se por um lado ele protege o corpo das intempéries, por outro ele o torna mais sensível ao ambiente, pois age como antena condutora e prolongadora das sensações da pele.

Outra questão importante no trabalho é a relação entre beleza e animalidade, que permite estabelecer um diálogo com o pensamento de Georges Bataille. Ao traçar relações entre tais temas no seu livro “O erotismo”, Bataille nos diz que “a beleza negadora da animalidade, que desperta o desejo, vai dar na exasperação do desejo, na exaltação das partes animais”. Desse modo, o caráter erótico do trabalho estaria ligado à presença ambígua dos pelos, que provoca uma aproximação a certa estética, que transgride o padrão estético vigente da beleza feminina.

SERVIÇO
“SORTERRO CAP. 4”
Juliana Notari
Exposição: 08/11/2013 a 24/01/2014
MAMAM no Pátio, Pátio de São Pedro, Casa nº 17
São José – Recife – PE – Brasil
CEP 50020-020
Entrada Gratuita

INFORMAÇÕES
+55 81 3355.6764
patio@mamam.art.br
lorena.taulla@mamam.art.br