CAROLINA: livro infantojuvenil de Gerusa Leal

Por que devemos ler Carolina?

Cícero Belmar por Cícero Belmar

Contracapa de Carolina
Foto: Contracapa de Carolina

Esta de quem vos falo é Carolina, personagem-título do primeiro livro infantojuvenil de Gerusa Leal, que será lançado na 9ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Uma produção da Bagaço Design, com 32 páginas, lindamente ilustradas por Fernando Raposo. Foi o vencedor do Prêmio Elita Ferreira da Academia Pernambucana de Letras este ano.

Por tudo isso já haveria motivo de sobra para se responder à pergunta que principia esta crítica. Mas, se não ficou claro, eu desenho. Devemos ler este livro, na minha opinião, por uma questão essencial: ele foi escrito por uma poeta a qual reputo como uma das melhores de Pernambuco, aventurando-se agora pelas diversas formas da ficção.

Uma poeta de alma formada. De sentimento e alma formados. Escrevendo para a criança de hoje. Dos dias atuais. Uma criança, diga-se, que continua com o seu poder imaginativo, do faz de conta. Mas que já não é assim tão infantil ou inocente. (Fato que a deixa muito exposta ao consumo do lixo cultural, inclusive de muitas bobagens que se escreve por aí). Ainda bem que Gerusa está lançando um livro de Literatura Infantojuvenil.com iniciais maiúsculas.

Pronto, disse!

Voltemos a Carolina. Ele não é um texto infantil, indicado para um leitor muito pequeno, que tenha seis ou sete anos. Esses leitores ainda gostam de ler histórias com bichos e fadas. A classificação do livro de Gerusa é mais apropriada à criança de oito ou nove anos de idade, que já tem condições de pegar um texto literário, ler e fazer comparações com a própria realidade. Já compreende as tramas.

Essa criança, imagino, vai se ver ali, lembrando de quando tinha a idade de Carolina e começou a se interessar pelas letras, pelas palavras, pelos números. Isso por que Gerusa escreveu um conto cuja ação está no repertório de vivência da própria criança. Mas, desprovido de um objetivo pedagógico. Não é esta a sua preocupação.

E nisso ela acertou em cheio. Escreveu uma história pela história. Sem defender teses de ética para criança, conceitos maniqueístas, ou que tenha moral politicamente correta. Nada disso. O livro é indicado para a criança que estiver interessada no seu próprio mundo.

Só repetindo: é a história de quando Carolina começou a ler e a entender os números, convivendo com seus pais e irmãos. Não é um personagem padronizado, estereotipado. Ela é uma pessoa que está em evolução, que tem seus questionamentos.

O narrador não é Carolina. É um adulto. A linguagem, portanto, é de um adulto contando a história para um provável leitor. No caso, qualquer um de nós. Talvez se questione que o livro valoriza muito a linguagem técnica, em detrimento da emoção. É meia verdade. Realmente Gerusa é cuidadosa com as palavras. Ela tem essa postura de rigor em todos os seus textos.

Mas é inegável também que autora escreve com habilidade. A brincadeira infantil está lá, nas páginas, o jogo do imaginário. Ela acerta muito em seu primeiro livro escrito para o público infantojuvenil. Não sei se vai querer se aventurar por outras composições para as crianças. Mas, seria muito legal continuar.