Inocência Interrompida?

 

Reproduçãopor Érica Perazza

 

Ainda nos dias de hoje, grande parte das meninas sonham em se casar no futuro. Quando o dia chegar, será um dia de princesa em que ela colocará um vestido dos sonhos. O noivo – seu marido a partir de então, será nobre, honesto, companheiro e juntos dividirão grandes momentos de sua vida em busca da felicidade.

 

Esse sonho é mutilado ou inexistente para algumas crianças. Em algumas culturas, elas são prometidas desde que nasceram e casam-se com homens bem mais velhos enquanto ainda não deixaram a infância e a inocência. Muitas vezes esses casamentos arranjados vêm acompanhados de violência, estupro e uma desumanidade absurda, que infringem a dignidade dessas meninas e seus direitos humanos. Tudo em nome de uma cultura e tradição que nós – ocidentais não somos capazes de compreender, aceitar ou respeitar.

 

No Iêmen, é comum uma criança de 12 anos casar-se e ainda por cima ter relações sexuais com homens que têm em média o dobro de sua idade. É o caso de Elham Mahdi. Mas ela não sobreviveu ao casamento. Três dias depois, a menina morreu devido à uma hemorragia interna por ter feito sexo com seu corpo ainda infantil.

 

Casamento em massa organizado pelo Hamas em Gaza

 

Na Turquia não é diferente. Cerca de 30% dos casamentos no país, são realizados com noivas menores de idade, aliás, em algumas regiões como Diyarbakir esse número sobe para 50%. Inclusive, o próprio primeiro-ministro turco casou seu filho com uma menina de 17 anos. Pois é, mesmo sendo proibido em muitos países…

 

Em Gaza, “patrocinado” pelo Hamas, aconteceram 450 casamentos de uma só vez. A maioria das noivas não tinha completado 10 primaveras.

 

O costume possui suas justificativas. Os pais das meninas arrumam um noivo para terem uma despesa a menos na família e ainda se livram da desonra que poderia acontecer à ela: perder a virgindade antes do casamento. Realmente, é uma honra para uma garota que nem chegou ainda na adolescência deixar a escola e virar escrava sexual e doméstica. Estima-se que 26% de mulheres apanham e são molestadas pelos maridos na Jordânia. No Egito, a porcentagem sobe 4%.

 

Na Etiópia, meninas dão à luz com 13, 14 anos. Os bebês dessas meninas (que correm risco de vida durante a gravidez) possuem altas taxas de mortalidade e quando sobrevivem baixas taxas de qualidade de vida.  Em muitos lugares da África e da Ásia, ainda ocorre a mutilação genital feminina. Sem a menor higiene ou anestesia, removem com tesouras, facas, navalhas, agulhas ou pedaços de vidro o clitóris e os lábios vaginais de meninas entre 4 e 14 anos. Ainda, segundo a UNICEF, cerca de três milhões de mulçumanas são mutiladas.

 

 

Uma reportagem da National Geographic revelou a vida de Tahani que se casou aos 6 anos com um homem de 25, também no Iêmen e de Asia, 14 anos, mãe de duas filhas. A primogênita de Asia tem dois anos; da caçula, ela ainda possui sangramentos do parto, mas não possui condições e informações de como se cuidar. Outra garota chamada Aisha ficou conhecida no mundo todo quando virou capa da revista Time. Nascida no Afeganistão, país em que 90% das mulheres sofrem algum tipo de abuso doméstico, Aisha casou-se quando tinha 12 anos. Ela foi vendida à um guerrilheiro Talibã em troca de uma dívida. Um dia, quando tentou fugir das condições sobre-humanas, o marido a mutilou e a abandonou na montanha. Dada como morta, Aisha conseguiu sobreviver e chegar até a casa de seu avô. Por dez semanas foi tratada num posto médico administrado por americanos. Ela acabou sendo levada à um refúgio secreto em Cabul, na capital do país até ser abrigada por uma família americana para nos reconstituir o seu nariz e suas orelhas nos Estados Unidos. Vidas sofridas como a de Aisha nem sempre vêm a público. Mas quando vêm a tona, como é o caso dela que repercutiu o mundo todo, os afegãos alegam que é propaganda americana contra o regime.

 

Vulneráveis, sensíveis, sem direito à palavra, sem direito a escolher seu próprio destino, sem direito nem ao menos à segurança, aproximadamente 25 mil meninas se casam com homens – por dia! Por mais que elas gritem por socorro ou que ajam causas que as  defendam, esses maridos – homens que não honram suas cuecas, sem caráter, nojentos, pedófilos que se acham tão “machos” – que são os culpados. Como podem deixar isso acontecer? Pais, avôs, tios, irmãos, primos, políticos, líderes religiosos não passam se covardes e assassinos. São eles e não somente as autoridades que devem tomar alguma atitude em relação as meninas-noivas sem voz. Nós também podemos fazer nossa parte, afinal, o assunto ainda está no fundo da caixa de pandora.

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Girls Not Brides: Traditions can change – ending child marriage

fonte:pandora