TEATRO DO PARQUE O ESPETÁCULO DO RECIFE

Entre os principais protagonistas da trajetória artística do Recife, o Teatro do Parque hoje figura como fachada desbotada entre os comércios da rua do Hospício. Altos e baixos são um reflexo da história do lugar que abarcou em quase um século de vida um espaço múltiplo de artes.

PORQUE É PRECISO VOLTA À CENA

Com a intenção de criar um espaço que se assumisse como ponto de encontro para a sociedade ávida por diversão, em 24 de agosto de 1915 o comendador Bento Aguiar fundou o Teatro do Parque seguindo um modelo de teatro-jardim e incorporando um teatro de variedades de revista, com linguagem mais popular.

De acordo com Leda Dias, autora do livro “Cine-teatro do Parque – um espetáculo à parte”, o idealizador buscou adequar o espaço ao clima tropical da cidade, seguindo a tendência art noveau. “Foi projetado para ter uma ventilação natural, com inúmeras janelas, estrutura de ferro e lanternim que possibilitava a saída do ar quente, aproveitando os ventos que vinham do rio e do mar”, explica.

Desde sua inauguração, o Parque já nasceu com grande vocação para o cinema, pois possuía, logo à entrada do teatro, um gabinete para colocar a máquina de projeção de filmes. Favorecendo a ideia inicial de contemplar diferentes formas de diversão, ainda oferecia espetáculos circenses, musicais e até lutas greco-romanas. Ao decorrer de sua história, o espaço assumiu características ainda mais plurais “ao abrigar a Pinacoteca Vicente do Rego Monteiro, a Filmoteca Alberto Cavalcanti e tornar-se sede da Banda Municipal do Recife”, acrescenta Leda.

O primeiro espetáculo no palco do Parque foi o teatro de revista “O 31”, da Companhia Portuguesa de Revistas e Operetas do Theatro Avenida de Lisboa. Para Leda, outros momentos importantes, em diferentes segmentos artísticos, marcam a história do teatro. A “exibição do filme Ben-Hur, que marcou a abertura da era Severiano Ribeiro; a primeira exibição do cinema sonoro e do falado (com legendas); as temporadas do Ballet Stagium; o cinema de arte projetado em filmes super 8 em meados dos anos 70 e filmes históricos como Johnny vai à guerra” se configuram como fatos memoráveis. Leda também cita o pioneirismo no Teatro Infantil e o “Projeto Seis e Meia” que, segundo ela, “possibilitou shows de artistas desconhecidos à época, como Chico Science, abrindo para os destaques nacionais”.

Nem só tapete vermelho, pó de arroz e brilhantina ilustram a história do Parque. Polêmicas, interdições, desapropriações, princípios de incêndio e ostracismo também interromperam dias gloriosos da casa de espetáculos. Desde as disputas entre os grupos que defendiam a “vocação” do espaço artístico para cinema ou teatro até o último fechamento do local em 2010.

O vice-coordenador do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco, Luís Reis, alerta para um problema que atinge os teatros de rua. “A gente vê teatros de centro ficando obsoletos. Para mim, isso é um reflexo da falência do espaço público. Você não tem mais como circular pela parte mais bela e tradicional da cidade e se confina num teatro de shopping”, lamenta.

Para Reis, que também é pesquisador do teatro pernambucano, quem transita à noite pela praça Maciel Pinheiro, contígua à rua do Hospício, a encontra “escura, suja e ocupada por gente que está a margem da sociedade que, tal como o Teatro do Parque, está abandonada”. Ele conclui ao afirmar que o Parque deveria ser o centro irradiador da revitalização urbana daquela área do Recife.

 

com informação da folhape