Com palestra sobre Graciliano Ramos, Milton Hatoum abre a Flip 2013

Diante de um auditório lotado, o escritor amazonense Milton Hatoum abriu a 11ª edição da Festa Literária de Paraty  (Flip) com uma palestra sobre o escritor alagoano Graciliano Ramos

 

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Milton Hatoum abre a Flip 2013 com palestra sobre Graciliano Ramos
O tom da crítica social que marcou a carreira do escritor casou perfeitamente com o momento político do país

Há quase um ano, o escritor Graciliano Ramos foi anunciado para ser o homenageado da 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa na quarta-feira (3/7) e vai até domingo. Na época, houve até quem criticasse a escolha. Alguns achavam que o evento deveria voltar seus olhos para o centenário de Rubem Braga, celebrado este ano. Mas não teve jeito. E, curiosamente, o autor de Memórias do cárcere, Vidas secas, Angústia e outros clássicos da literatura está mais atual do que nunca. Notório por seu engajamento e envolvimento político – ele chegou a ser prefeito de Palmeira dos Índios (AL) e foi filiado ao Partido Comunista (PCB) -, sua produção reflete a inquietação diante das injustiças sociais.

“Uma das coisas mais interessantes na obra e na figura do Graciliano Ramos é que ele percebeu e fez como ninguém uma literatura de crítica social. E o fez de uma maneira única. Tem uma escrita muito peculiar, característica, marcada pela ironia, pela concisão e até hoje ainda soa moderno. Graciliano lutou ao longo de toda a vida para manter a liberdade de criação artística”, observa o curador da Flip, o jornalista Miguel Conde.

A Flip não poderia ignorar o atual momento brasileiro e preparou uma programação extra sobre as recentes movimentações políticas que mobilizam o país. Conde acredita que, mesmo que as mesas adicionais não tivessem sido criadas, o assunto naturalmente iria surgir nos debates. No entanto, desde que os protestos começaram a pipocar pelo Brasil, a organização do evento passou a pensar em inserir o tema no evento. “Já tínhamos cogitado alterar a programação e abrir espaço para discutir o atual momento político. Nas novas mesas, teremos intelectuais, economistas e jornalistas especialmente para isso. Mas o fato de o homenageado ser um escritor marcado pela atuação política e vários convidados também terem essa preocupação favorece a inclusão”, ressalta o curador.

Outro ponto forte da Flip deste ano é que, mais do que nas outras edições, ela terá convidados de fora do mundo literário, como o crítico de arquitetura da revista New Yorker, Paul Goldberger, que vai debater com o arquiteto português Eduardo Souto de Moura. Na área de cinema, os destaques são os 80 anos do documentarista Eduardo Coutinho, que participa de uma mesa-redonda, e Nelson Pereira dos Santos, diretor do filme Vidas secas, baseado no romance de Graciliano Ramos. A programação traz ainda a cantora Maria Bethânia, que participa de recital em homenagem a Fernando Pessoa, na companhia da professora Cleonice Berardinelli, uma das maiores especialistas na obra do poeta português. Conde destaca ainda a presença do historiador de arte T. J. Clark, que vai falar sobre o quadro Guernica, obra-prima de Picasso, também de forte conotação política.

Outras participações são as do poeta Tamim Al-Barghouti, figura central na Primavera Árabe; a norte-americana especialista em contos e narrativas concisas, Lydia Davis; a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh; o escritor norte-americano Tobias Wolff e o norueguês Karl Ove Knausgård,o mexicano Juan Pablo Villalobos que se encontram em debate sobre a relação entre ficção e confissão.

Já o francês Jérôme Ferrari se junta ao brasileiro Daniel Galera para refletir sobre elemento em comum das obras de ambos: a atualização de temas ligados à tragédia clássica, como o conflito entre ação humana e predestinação. Zuca Sardan e Nicolas Behr, dois grandes satiristas brasileiros das últimas décadas, discutirão um estilo que ironiza consensos e costumes, de forma poética e caricata, utilizando os recursos próprios da poesia, marcada pela invenção verbal e gráfica.

A FLIP, como ficou conhecida, já homenageou em suas edições anteriores os escritores:  Vinicius de Moraes (2003), Guimarães Rosa (2004), Clarice Lispector (2005), Jorge Amado (2006), Nelson Rodrigues (2007), Machado de Assis (2008), Manuel Bandeira (2009), Gilberto Freyre (2010), Oswald de Andrade (2011) e Carlos Drummond de Andrade (2012).

com informação site flip