Sobre outros mundos – Paulo Fichtner

Sempre que falar do lugar de onde falo,
Por mais que a mente lhe conceba, duvides,
Pois desde que a metafísica inventaram,

Há um certo pequeno intervalo
Da consciência; alí vive Medusa,
Entre cheiros, odores, provindos de vários

Quentes incensos índicos queimando,
Oscilavam de leve os incensários…*
Os ardentes turíbulos vagando

Pelo imaginário da mente obtusa.
Refuto hoje as paixões
Do amante e do amado,

Conforme desejo ter ao lado
Amores mais profundos
E circulares que o quadrado.

Ampliando se vão os mundos
Até o fundo dos corações.
É no meio dos amores

E, às vezes das tragédias,
Que no túmulo põem-se flores,
Depois se riem das comédias.

Não avô, não pude ainda
Deixar-te repousar em paz:
A cada noite a tua vinda

Revela-me que teus ossos
Estão em ordem sobre o túmulo
E tu’alma vívida (vês? Que cúmulo!)

Na minh’alma quase morta jaz.

* Olavo Bilac

Paulo Fichtner nasceu em Porto Alegre em 1971. Formado em História e Civilização Francesa pela Sorbonne. Começou a escrever aos 14 anos de idade, com a obra Cemitério. Publicou O Despertar do Paraíso (1999), Tumulto Secreto (2005), Contra o Chão e o Vento(2007) e Como quem parte (2008). Paulo é um dos poetas oriundos do CEP 20.0000, movimento de experimentação poética criado pelo poeta Chacal e pelo escritor Guilherme Zarvos.