Autópsia do Bípede
O lado contista de Marco Polo
No livro, Marco Polo escolhe trabalhar os contos a partir de uma perspectiva clara e simples: criar textos que narrem, de fato, histórias. “Gosto do experimentalismo, mas também aprecio ler obras com enredo, tenho uma necessidade de narrativas”, aponta o autor. Essa é, para ele, a sua estreia na prosa, ainda que tenha lançado uma plaquete com 18 contos em 199Autópsia do Bíbede foi lançado pela editora carioca Confraria do Vento, que aconteceu nesta última terça (11), no Centro Cultural Correios, no bairro do Recife.
Outras Áfricas: elementos para uma literatura da África
Nesta obra, a ensaísta professora de literatura portuguesa Zuleide Duarte reúne importantes ensaios sobre autores brasileiros, portugueses e africanos num trabalho desvendamento cultural e de literatura comparada. Fernando Pessoa, Adonias Filho, e a moçambicana Lilia Momplé são alguns dos escritores estudados. Uma leitura indispensável para compreender e amar o mundo lusófono. Editora Massangana.
Joaquim Nabuco & Gilberto Freyre face a face
Inaugurando a Série Joaquim Nabuco, dedicada exclusivamente a obras de e sobre o patrono da Fundação Joaquim Nabuco, Joaquim Nabuco & Gilberto Freyre face a face, da escritora e antropóloga pernambucana Fátima Quintas, é um ensaio de longo fôlego que traça um original paralelismo entre Nabuco e o autor de Casa-grande & Senzala, inclusive com um imaginoso e inesperado encontro “pessoal” desses dois gigantes da cultura brasileira. Ilustram a obra uma série de fotos de Freyre e Nabuco pertencentes aos acervos da Fundaj e da Fundação Gilberto Freyre. A autora também selecionou, dos dois autores, algumas de suas melhores frases sobre a vida e a sociedade. Editora Massangana.
O Saber na Poética
Martin Heidegger*
Foto: Reprodução / Martin Heidegger
(1889 – 1976)
De onde as coisas tem seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do tempo. (…)
Ora, aquilo de onde as coisas se engendram, para lá também devem desaparecer segundo a necessidade; pois elas se pagam uma às outras castigo e expiação pela sua criminalidade segundo o tempo fixado. (…)
Mas que direito possuem os primórdios de apelar a nós que somos provavelmente os mais tardios frutos da filosofia? Seremos os filhos tardios de uma história que agora se inclina rapidamente para o seu fim, fim que consuma tudo na ordem cada vez mais desolada do uniforme? Ou esconde-se, por acaso, na distancia cronológico histórica da sentença, uma proximidade historial do que nela não foi dito, mas que se pronuncia em direção ao futuro.
(…) A sentença do pensar só se deixa traduzir no dialogo do pensar com o que nele é pronunciado. O pensar, contudo, é poematizar, e não somente no sentido da poesia e do canto. O pensar do ser é a maneira originária de poematizar.
Somente nele, antes de tudo, a linguagem se torna linguagem, isto é, atinge sua essência. O pensar diz o ditado da verdade do ser. O pensar é o dictare originário. O pensar é o poematizar originário que precede toda a poesia, mas também o elemento poético da arte, na medida em que esta se torna obra, no seio do âmbito da linguagem
Todo o poematizar, tanto neste sentido mais amplo como no sentido mais restrito do poético, é, no seu fundo, um pensar. A essência poemática do pensar guarda o imperar da verdade do ser. Pelo fato de ela ditar enquanto pensa, a tradução do que a mais antiga sentença do pensar quereria dizer parece necessariamente violenta.(…)
Ora, a partir daquilo do qual a geração é para as coisas, também o desaparecer dentro disto se engendra segundo o necessário; pois eles se dão justiça e penitencia reciprocamente pela injustiça, segundo a ordem do tempo. As coisas se desenvolvem e novamente se decompõem.
A linguagem pode expressar tudo que pensamos claramente. Depende assim de nos atentar para a ocasião oportuna que nos permite pensar claramente a questão que a sentença traz à linguagem.
*Martin Heidegger foi um filosofo alemão. É um dos pensadores fundamentais do século XX – ao lado de Bertrand Russell, Wittgenstein, Adorno e Michel Foucault – quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, quer pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Influenciou muitos outros filósofos, dentre eles Jean-Paul Sartre.
*colaboração enviado pelo poeta e parceiro Antonio de Campos.
Poemas de Fernando Pessoa, Natanael Lima Jr, Frederico Spencer e Antonio de Campos
O mar português
Fernando Pessoa*
Ó mar salgado, quando do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
*Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, nasceu em 13 de junho de 1888 e faleceu em 30 de novembro de 1935. Foi um poeta, filósofo e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.
No meio do mundo*
No universo há verso e reverso
e eu no meio do mundo
por exígua sorte.
O excesso
é contra partida da morte.
Há excesso
em tudo que faço, em tudo
o que canto.
Eu canto há séculos:
a vida não para
e o canto não para.
No meio do mundo
há excesso de vida,
há excesso de morte.
*In À espera do último girassol e Outros Poemas, 2011
Nascedouro
Do nascer
de cada poema
sobra o cansaço e suas migalhas:
suas escamas – o sangue
de aço, sua carne inoxidável.
II
Do nascer do poeta
restam cicatrizes de versos
inacabados, sonhos de palavras
esquecidas num mote amordaçado.
Resta o silêncio
tramando no silo do papel
a abolição de seus signos.
*In Abril Sitiado, 2011
Com essa gente, como ficar de seu lado?
Antonio de Campos
há tempo de insultar, e tempo de invadir
ao 54º aniversário da Revolução Cubana do general Eisenhower
Com marcas de coturno,
cínicos, tatuaram as terras do Iraque –
berço da escrita
com a qual este poema escrevo agora,
como cinco* vezes no século passado,
na esquina a dobrar ainda,
marcaram as terras de Cuba –
barco atrevido no golfo do México ancorado.
A mesma Cuba a quem, depois de insultarem
por mais de cem anos
de tantas e das mais variadas maneiras
quantos são os tipos de cacto e rosa,
não satisfeitos, fizeram,
entre flores de tabaco y caña,
do chão brotar
uma ditadura estranha!
*1906, 1912, 1913, 1917 e 1933
“Ninho Vazio” de Salete Rêgo Barros*
(Img: Reprodução)
Corro a vista pelos cômodos arrumados à espera de, a qualquer momento, aquelas caixas se abrirem e, de dentro delas, saltarem carrinhos, bolas de gude, bonecas, tênis, cadernos, lápis de cor ou remédios, diários, livros, muitos livros.
Sou guiada por uma força maior, que me obriga a percorrer aqueles antigos caminhos. Reflito: caminhos não envelhecem, eles têm a idade de quem passa por eles. Mesmo assim, continuo a achá-los antigos.
Algo novo, porém, me conduz por caminhos nunca antes percorridos. Estes são novos e me renovam e me enchem de uma alegria antiga.
5 de junho de 2013, 23h30min.
Aniversário de nascimento e encantamento de Irba.
*Salete Rêgo Barros é arquiteta, parapsicóloga, escritora e editora da Novoestilo Edições do Autor e produtora cultural executiva da Cultura Nordestina Letras & Artes. Vice-presidente da Associação Nordestina de Trovadores – ANT, secretária geral da Academia de Letras do Brasil – ALB, coordenadora do programa O Fantástico na Literatura da União Brasileira de Escritores – UBE.