Operação Inverno só cumpre parte do prometido

No Alto do Cruzeiro, em Nova Descoberta, família não dormem quando chuva aperta / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

No Alto do Cruzeiro, em Nova Descoberta, família não dormem quando chuva aperta

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Menos lonas colocadas, menos escadarias revitalizadas, menos buracos tapados. A 10 dias do início oficial do inverno, apenas uma parte das promessas feitas no lançamento da Operação Inverno foi cumprida. A Prefeitura do Recife só implantou metade das lonas previstas em áreas de risco. A meta, em 7 de março, era colocar um milhão e 186 mil metros quadrados do tecido plástico em seis mil localidades até o final de maio. Balanço divulgado ontem pela Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife revelou que 602.960 metros quadrados de lonas foram instaladas em 3.453 áreas de morro.

O secretário Adalberto Freitas informou que, para atingir a meta, a prefeitura resolveu ampliar de 70 para 200 o número de agentes operacionais, responsáveis por fazer a colocação das lonas nos pontos de risco. “Já atendemos a muitas áreas. Nas últimas chuvas, a quantidade de ocorrências teria sido muito maior se a gente não tivesse feito o que fez. Não existe nenhuma área específica que esteja precisando mais que outra. Nosso maior cuidado, na verdade, é na Zona Norte, que é uma região mais populosa e onde temos três das cinco regionais de áreas de risco”, explicou o coronel.

No Alto do Cruzeiro, em Nova Descoberta, Zona Norte, o esquecimento mandou lembrança. De longe é possível ver uma imensa barreira com casebres desprotegidos, à mercê da sorte. Apenas uma lona rasgada dá o ar da graça. A dona de casa Cibele Pereira, 23 anos, mãe de três filhos, o caçula com apenas seis meses, não aguenta mais esperar. Mora numa das casas à beira da encosta. Parte do declive caiu com as últimas chuvas. “Já dei meu nome, falaram que colocariam a lona e até agora nada. Quando chove, ninguém dorme de noite. Não vou sair daqui porque não tenho para onde ir. Poderiam amenizar nossa situação”, reclama.

Perto dali, drama igual vive o auxiliar de serviços gerais desempregado José Roberto da Silva, 40. Reside numa área de risco e, para completar, a escadaria que dá acesso a sua residência cedeu. “Está perigoso. Não colocam lona desde o ano passado e agora tem um buraco na porta de casa”, lamentou. A Operação Inverno prometia restaurar 70 escadarias. Segundo comunicado da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), 50 foram revitalizadas.

O programa também resultou em 12.966 vistorias em zonas de morro, acima das 10 mil previstas. Ainda conforme a Defesa Civil, foram aplicados 19.365 metros quadrados de gel impermeabilizante em 83 pontos de risco, enquanto a ideia inicial era implantar 12 mil metros quadrados em 40 localidades.

As ações nas escolas, no entanto, ficaram abaixo do estipulado. O objetivo era promover palestras educativas e ambientais em 120 colégios municipais dos morros, atingindo 3,6 mil alunos. Até ontem, 80 escolas tinham recebido seminários, com a participação de 2,4 mil estudantes. A Defesa Civil negocia ampliação de palestras para unidades estaduais.

Muitos buracos permanecem expostos. O intuito da Emlurb era tapar quatro mil até o final de junho. Até ontem, contudo, 2.386 vias tinham sido beneficiadas. O órgão ainda realizou limpeza em 80 canais, trabalho que resultou na retirada de 53.275 toneladas de resíduos.