Luiz Garcia, O Globo
Os muito pessimistas, diz um velho ditado, acham defeito até em pôr do sol. Mas não parece ser esse o caso com a situação atual do sindicalismo no Brasil.
Num punhado de décadas atrás, o crescimento da atividade sindical era saudado como altamente positivo — a não ser por um punhado de patrões do modelo antigo, que consideravam a organização legal dos trabalhadores como algo perigoso para a economia em geral e para seus lucros em particular.
Pois agora não parece existir qualquer resistência, nem mesmo uma dose modesta, e preocupação entre os empresários nativos. Nos últimos oito anos, nasceram no Brasil mais de 250 sindicatos operários — e o número continua crescendo.
A explicação pode ser inesperada para o leitor leigo: os novos sindicatos não querem nem saber de luta de classes (se é que alguém ainda se lembra desse velho fantasma). O que interessa aos trabalhadores é o imposto obrigatório. Não é pouco dinheiro. E ninguém fala mais em conflitos trabalhistas — tão comuns umas poucas décadas atrás.
Os novos tempos trouxeram — como sempre acontece — novos problemas. O aumento no número de sindicatos não tem representado crescimento na quantidade de trabalhadores sindicalizados. Segundo técnicos do Ministério do Trabalho, isso tem explicação óbvia: um bom número de trabalhadores tem suas razões para acreditar que não precisa de ajuda do sindicato para melhorar de vida.
Os números são significativos: temos 16 milhões de trabalhadores sindicalizados — o que significa 17,2 por cento do total da mão de obra. E muitos sindicatos existem apenas formalmente.
Até agora, não há nuvens pretas no horizonte. Mas é sempre imprudente manter à mão instrumentos que resolvam aquilo que antigamente a gente chamava de “luta de classes”. Lembram-se?