Merval Pereira, O Globo
Cada vez fica mais claro que o que vai definir a eleição de 2014 é a economia, assim como o que define a alta popularidade de Dilma é a sensação de bem-estar que ainda domina a população, embora a inflação já esteja chegando ao bolso do cidadão comum, como mostram os dados mais recentes de queda de consumo.
Assim como as mais recentes pesquisas de opinião foram realizadas em momentos propícios ao governo, como logo depois da fala em rádio e televisão anunciando a redução das tarifas elétricas ou a desoneração dos alimentos da cesta básica, talvez uma pesquisa realizada nos dias de hoje, com a alta do custo de vida voltando a ser tema de conversas das donas de casa, pudesse avaliar a repercussão dessa nova situação nos índices de popularidade da presidente.
As medidas pontuais lançadas pelo governo para estimular o consumo não conseguiram alavancar a economia, que continua patinando, um mês bom e outro ruim. E a redução das tarifas, e também da cesta básica, acabou tendo efeito efêmero, corroídas por outros efeitos da inflação.
Não há informações sobre pesquisas mandadas fazer pelas oposições, mas é sintomático que tanto Eduardo Campos quanto Aécio Neves estejam convencidos de que a situação econômica só piorará até a eleição.
O governador de Pernambuco, em seu périplo pelo país que só fortalece a sensação de que está mesmo disposto a concorrer à Presidência em 2014, garantiu outro dia que a crise econômica que assola a Europa e os Estados Unidos ainda chegará ao país, e o governo não está preparado para enfrentá-la devidamente.
Na sexta-feira foi a vez de o ex-governador José Serra fazer críticas ao governo Dilma, dizendo que a economia está no chão, e que a perspectiva é piorar, embora sua participação no seminário do PPS, depois de ter faltado ao encontro na véspera, quando Aécio Neves discursou, tenha trazido a confirmação de que o PSDB continua rachado em São Paulo, aumentando as especulações de que Serra pode até deixar o partido para apoiar Eduardo Campos.
O Palácio do Planalto conta com essa divisão na oposição para facilitar seu trabalho para a reeleição e tem uma receita bastante simples para ganhar a eleição. Bastaria conter a inflação dentro das metas — este mês a inflação anualizada estourou o topo da meta — e crescer pelo menos a 2% este ano para ter a garantia de que em 2014 poderá manter os programas sociais e a sensação de bem-estar da população.
Difícil entender como, com a economia crescendo tão lentamente, será possível manter o nível de emprego e também os gastos com a máquina estatal, aí incluídos os programas sociais, fundamentais para a manutenção dos altos índices de popularidade da presidente Dilma.
Assim como a oposição tem bastante tempo para se organizar internamente e montar uma estratégia de unidade de ação na campanha presidencial, é também verdade que a presidente Dilma terá ainda prazo suficiente para recolocar a economia em funcionamento até chegar a hora da definição do eleitorado.
Mas o cenário atual é de tomar medidas impopulares, como a alta de juros que está se tornando inevitável, para reassumir o controle da economia. E, para quem estava acostumada a só distribuir bondades através de cadeia nacional de rádio e televisão, admitir que não deu certo uma de suas principais estratégias não deve ser fácil.