Jogando com coisa séria

CARLOS BRICKMANN

 Um senhor condenado a mais de 40 anos de prisão por diversos crimes – todos ligados à operação do Mensalão – e que ainda enfrentará outro processo, pelo outro Mensalão, o tucano, resolve enfim ficar bonzinho. Mentiu durante todo o processo e resolve enfim contar o que sabe. Passou a vida levando vantagem e agora, num lampejo de consciência, resolve enfim colaborar com a Justiça.

E tem gente que acredita! O problema é que o principal alvo das denúncias de Marcos Valério é o ex-presidente Lula. Um ex-presidente não tem foro especial: está sujeito a decisões de um juiz singular. Mas um ex-presidente não é uma pessoa comum – tanto que tem direito a escolta oficial e a outras prerrogativas. Como ex-presidente, diretamente eleito e reeleito, merece consideração e respeito.

Isso não significa que um ex-presidente esteja acima das leis; mas significa que não pode ficar à mercê de qualquer denúncia de qualquer bandido condenado. Se Marcos Valério tinha denúncias a fazer, por que não as fez quando as oportunidades lhe foram oferecidas, durante o processo do Mensalão? Por que só se manifestou depois da causa julgada, da sentença pesada, do jogo jogado?
Que haja respeito, pois. A abertura de uma série de investigações sobre Lula cheira a ameaça. Se há motivo para processo, que se faça a denúncia à Justiça. Mas abrir investigações, só com base em Marcos Valério, é fora de propósito.

Ah, sim: este colunista jamais votou em Lula. E petistas radicais, como aliás os membros radicais de todos os demais partidos, costumam detestá-lo.

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