De Aécio a Dora Kramer: “Dilma não é boa gestora”

 

Minas247 – O senador Aécio Neves (PSDB-MG) deu o grito de guerra e organizou seu exército. Para o presidenciável tucano, a tática de ataque do partido em 2014, na eleição contra a presidente Dilma Rousseff, terá duas verten­tes: uma, resgatar passado, não como bandeira, mas como “vacina”; outra, “explicar que se governos do PSDB já fizeram bastante pode­mos fazer mais e melhor”.

Em entrevista à colunista do Estadão Dora Kramer, o parlamentar mineiro garante que irá mostrar que Dilma não é uma boa gestora, apesar de ter sido eleita com essa fama, diz ele. “Vou mostrar que não é nada disso, que as questões reais não foram resol­vidas, que não tem compromisso fir­me com a inflação e tem uma base política imensa que aprisiona e parali­sa o governo”, promete, às vezes se esquecendo de colocar, no início de suas frases: “Se eu for mesmo escolhi­do candidato do PSDB”.

O presidenciável ganhou um aliado, o colunista do Globo Merval Pereira, para quem a presidente chegou “no limite da ineficiência”. Merval critica o atual número de ministérios no governo, “um recorde na História desse país”. Leia abaixo as duas colunas, publicadas nesta quarta-feira 3:

Remoção de obstáculos – Dora Kramer

Fácil não vai ser, o senador Aécio Neves tem perfeita consciência disso, mas acha que também não é uma missão tão impossível assim en­frentar o governo na eleição presi­dencial de 2014.

“Estamos nos preparando, saben­do que o segredo é entender o eleito­rado e despertar a emoção das pes­soas”, diz ele, com o cuidado de in­cluir um “se eu for mesmo escolhi­do candidato do PSDB” ao início de cada frase.

Como nessa altura a ressalva é um recurso de linguagem meramente formal, às vezes esquece o protocolo e discorre livremente sobre o roteiro que já começou a cumprir para cons­truir uma candidatura competitiva,

O trabalho por ora é de remoção de obstáculos. Primeiro trata da consolida­ção do apoio da seção paulista do parti­do a fim de superar a “agenda da divi­são”. Sem isso, é tempo perdido, confor­me ensinaram as últimas três derrotas presidenciais.

O passo seguinte, a eleição (de prefe­rência por unanimidade) para a presi­dência do PSDB. Em maio, numa con­venção que produza fotografia simbóli­ca: Fernando Henrique Cardoso repre­sentando o legado da estabilidade eco­nômica, José Serra traduzindo unidade política, os jovens eleitos ou com bom desempenho na eleição de 2012 retra­tando o “time novo” e o comandante do partido subentendido como candidato a presidente da República.

E por que a necessidade de ter a presi­dência do PSDB como suporte para a candidatura se esta não é uma etapa in­dispensável nem uma prática comum nos partidos?

Em primeiro lugar, porque o PSDB não é um partido comum. Tema marca de divisão, da ausência de comando e de referência de ação e pensamento.

Basta lembrar que o ex-presidente Fer­nando Henrique até bem pouco atrás falava sozinho em seus alertas em defe­sa de uma urgente reorganização geral do partido. Suas declarações tinham mais repercussão entre petistas que no meio dos tucanos.

Quando o candidato está no coman­do, ainda que delegue as funções admi­nistrativas fica no controle político da máquina. Um exemplo: tem poder de influir nas alianças regionais para que elas acompanhem os interesses da can­didatura presidencial.

Outra razão, esta apontada pelo pró­prio Aécio: “Se estiver na presidência, não ficarei o tempo todo sendo ques­tionado sobre a divisão do partido nem preciso falar oficialmente como candidato”.

Resolvida a questão da tomada das rédeas, o senador se impõe um prazo de “seis a oito meses” para convencer as pessoas de que pode representar uma boa alternativa ao governo do PT.

Avisa logo que o estilo vai continuar ameno. Na forma, pelo menos. “Com aju­da de um esquema bem profissional”, ele ainda ajusta os detalhes de lingua­gem, busca entender as demandas do eleitorado, incorporar os maneirismos da sedução, em suma: “Encontrar o melhor caminho para chegar lá”.

O conteúdo está escolhido. O alvo, claro, a presidente Dilma Rousseff. “Ela foi eleita com fama de boa gesto­ra. Vou mostrar que não é nada disso, que as questões reais não foram resol­vidas, que não tem compromisso fir­me com a inflação e tem uma base política imensa que aprisiona e parali­sa o governo.”

Na visão de Aécio Neves, o aumen­to do endividamento das famílias, o efeito da inflação sentido no preço dos alimentos e a queda no consu­mo darão sustentação factual ao dis­curso.

A tática do ataque está entendida. E a defesa, o que propõe? Duas verten­tes: uma, resgatar passado, não como bandeira, mas como “vacina” para não deixar que o PT pose de dono da estabilidade econômica, inventor dos programas sociais e defensor de patrimônios como a Petrobrás.

Outra, “explicar que se governos do PSDB já fizeram bastante pode­mos fazer mais e melhor, mostrando que o PT de repente precisa de um novo estágio na oposição. Até para re­ver e recuperar seus antigos valores”. 

O limite da ineficiência – Merval Pereira

Já que a principal qualificação da presidente Dilma Rousseff é a excelência gerencial, pelo menos na propaganda oficial, analisemos seu governo à luz da organização de sua estrutura administrativa, agora que mais uma secretaria com status de ministério, a da Micro e Pequena Empresa, foi criada. São 24 ministérios, mais dez secretarias ligadas à Presidência e cinco órgãos com status de ministério, ao todo 39 ministérios, um recorde na História do país, além de uma dimensão que está dentro do que se conhece como “coeficiente de ineficiência”, definido em estudo, já relatado aqui na coluna, de três físicos da Universidade Cornell, Peter Klimek, Rudolf Hanel e Stefan Thurner, depois de analisarem a composição ministerial de 197 países.

O estudo chegou à conclusão de que os governos mais eficientes têm entre 19 e 22 membros. O Brasil estaria no mesmo nível de ineficiência ministerial do Congo (40); do Paquistão (38); de Camarões, Gabão, Índia e Senegal (36), entre outros. O empresário Jorge Gerdau, que atua como consultor do governo para melhorar sua gestão, perdeu a paciência com a situação e disse, em recente entrevista, que “tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período”.

Para Gerdau, o país poderia ter apenas uma meia dúzia de ministérios, que são os que realmente a presidente Dilma controla diretamente. Os demais “ministros” raramente estão com a presidente, e alguns nunca foram recebidos por ela em audiência nestes mais de dois anos de governo. Napoleão Bonaparte concordava com Gerdau e dizia que nos altos níveis não se comanda com eficiência mais de sete subordinados.

O número de ministérios no Brasil tem aumentado a partir da eleição de Tancredo Neves, em 1985, segundo o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas do Rio, um estudioso da formação de governos, e seu levantamento vale a pena ser republicado por refletir a necessidade crescente de composições políticas, acrescida da busca desenfreada de minutos de propaganda eleitoral. Antes de Tancredo, o governo Figueiredo tinha 16 membros, além dos cinco ministérios militares: Marinha, Exército e Aeronáutica, SNI e Emfa. Eleito, uma das primeiras coisas que Tancredo Neves fez foi aumentar o número de ministérios, para acomodar na sua coalizão uma série de facções do PMDB e do antigo PDS, transformado em Frente Liberal.

O primeiro Ministério de José Sarney, herdado de Tancredo, tinha 21 ministros, com três ministérios novos: da Cultura, da Reforma e Desenvolvimento Agrário, e o de Ciência e Tecnologia. O governo de Fernando Collor reduziu radicalmente o Ministério para dez, chegando a 12 no final, antes do impeachment, o que alimenta a tese de que ele caiu por não ter mantido bom relacionamento com o Congresso, e não pelas falcatruas de que era acusado.

Quando Itamar Franco assumiu, na crise da deposição de Collor, uma das primeiras coisas que fez foi ampliar o número de ministérios para 22, tendo sido criado o Ministério do Meio Ambiente. O tamanho dos ministérios ficou em torno desse número no governo Fernando Henrique Cardoso, embora também ele tenha criado mais três pastas: a do Planejamento, a da Defesa e a do Esporte, e uma série de secretarias para acomodar facções políticas. A partir dos governos petistas, especialmente depois da crise de 2005, a criação de ministérios disparou: saltou das 21 pastas do último ano do governo Fernando Henrique Cardoso para 34 no primeiro mandato de Lula, 37 no segundo e, agora, 39 com Dilma.

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