Autores ainda presenteiam o leitor com receitas
Mais do que uma obra sobre a mais importante confeitaria do Rio, “Colombo, os sabores de uma cidade” é um livro de história, um passeio pela cidade nos anos de 1800, quando as águas em barris davam lugar ao conforto do abastecimento em domicílio, as experiências com telefonia apareciam como um truque de mágica, e os lampiões começavam a dar espaços para os fios: era a chegada da eletricidade ao país. E a luz elétrica fascina na belle époque. “Paris é a cidade-luz, e o Rio não podia ficar atrás”, conta o historiador Antonio Edmilson Martins Rodrigues, que, juntamente com o chef Renato Freire e o fotógrafo Pepe Schettino, assina o livro editado pela Casa da Palavra, que será lançado no próximo dia 18, na Colombo. E onde mais seria?São oito espelhos belgas alinhados nas paredes laterais do salão principal da Colombo: enormes, dispostos simetricamente, uns em frente aos outros, quatro de cada lado. Pode-se reparar que, através deles, o interior da confeitaria se reproduz infinitamente, com suas mesas de mármore, pisos hidráulicos, cadeiras de palhinha, o vaivém das bandejas, o agito na calçada da Rua Gonçalves Dias… “Olhar através desses espelhos é como entrar no túnel do tempo, onde passado, presente e futuro se embaralham”. Os espelhos surgiram com a reforma que redesenhou a confeitaria em 1912, projeto de Antônio Borsoi, o mesmo do Cinema Iris. Era o auge do modismo das confeitarias. Elites e intelectualidade frequentavam em peso esses espaços. Havia muitas além da Colombo: Carioca, Cailteau, Nacional, Pascoal, Castelões, Cavé… Elas estavam para a cidade como os cafés para Paris. As mulheres também passaram a ser habituées. E, para tanto, caprichavam no visual. A moda passou a desfilar pelos salões das confeitarias.
Pelas páginas, desfrutamos das transformações do Rio (Pereira Passos), os muitos imbróglios políticos, a evolução de costumes, a chegada do futebol (1894), do cinema (1897), dos primeiros carros e… de 20 receitas da casa. Sabe o creme da coxinha da galinha? O chef Renato Freire ensina tim-tim por tim-tim. Um presente.