Ao receber, ontem, o prêmio Liberato Costa Júnior, outorga da Câmara de Vereadores do Recife, e discursar em nome das mulheres, Aline Mariano (PP) destacou o papel da mulher na política, lembrou que elas são maioria no eleitorado, mas continuam minoria em todos os parlamentos e nos cargos executivos da gestão pública. Aline teve quase 7 mil votos na eleição passada. Não renovou seu mandato por apenas 200 votos, resultado da lei eleitoral caduca que rege a eleição proporcional no País.
Ela também destacou a trajetória de Liberato Costa Júnior, o Velho Liba, de quem foi companheiro de bancada e agradeceu pela homenagem. Veja abaixo a íntegra do seu discurso.
“Retorno a esta Casa hoje, na qual representei o povo recifense com muita honra em três mandatos seguidos, desta feita para ser homenageada junto com vários colegas com a outorga do Prêmio Liberato Costa Júnior.
Falar de Liberato, meu amigo, conselheiro e guru, com quem tive a felicidade de compartilhar meu mandato de vereadora do Recife, é falar, antes de tudo, de alguém que fazia da vida pública um sacerdócio. Ninguém conhecia esta Casa mais do que Liba, como assim o tratávamos carinhosamente.
Era a ele que recorríamos para quaisquer assuntos de natureza regimental. Era um regimentalista ardoroso. Que maravilha, que oportunidade única e singular, ter agora a distinção de ilustrar a nossa galeria de honrarias públicas com uma outorga levando o nome de Liberato Costa Júnior.
Decano desta Casa, Liberato amava o Recife e seu povo de forma ardente, uma paixão que contagiava e nos fazia abrir também uma relação amorosa com esta cidade linda, de pontes e rios, de lendas e poesias, de encantos mil como cantou Reginaldo Rossi.
Liberato era conhecedor e estudioso da história do Recife, não só aqueles fatos registrados em livros e ensinados nas escolas, mas também a história que se renovava no dia a dia, na atualidade dinâmica dos fatos, sobretudo a história política.
Conversar com ele, na verdade, era mergulhar fundo na história política, cultural e econômica do Recife. Foi prefeito, vereador e deputado estadual. Com a sua sabedoria, fez projetos que se transformaram em leis que contribuíram para melhoria da qualidade de vida dos recifenses e dos pernambucanos.
Defensor intransigente da democracia, Liberato Costa Júnior morreu aos 97 anos. Era recifense, dedicou toda a vida à política. Ganhou a primeira eleição de vereador do Recife em 1955. A partir daí, foram 10 mandatos na Câmara Municipal.
Como presidente da Câmara, chegou a assumir, em 1963, o cargo de prefeito do Recife por dez meses, quando substituiu o então prefeito Miguel Arraes, que havia sido eleito governador de Pernambuco, e o vice Artur Lima tinha ganho a eleição de deputado federal.
Ainda na década de 60, Liberato foi eleito deputado estadual, mas foi cassado e preso em 1969 pelo regime militar. Uma época de péssima lembrança na memória do velho Liba. Em época de eleição, virava um consultor de políticos e de jornalistas. Tinha uma memória brilhante. A cada eleição, fazia as previsões eleitorais dos candidatos que concorriam a vereança.
A Câmara do Recife não poderia ter sido mais feliz ao criar o Prêmio Liberato Costa Júnior. Parabenizo a todos os integrantes desta Casa, em especial o vice-presidente e amigo Hélio Guabiraba pela iniciativa de homenagear nesta data tantos homens públicos com os quais convivi aqui nesta Casa, entre os quais os que já se foram, como os saudosos Carlos Gueiros, Vicente André Gomes, Erivaldo Eri da Silva e, mais recentemente, Marcos de Bria, para quem peço uma salva de palmas.
Todos são merecedores dessa honraria. Quanto à mim, estou muito feliz e emocionada por ser distinguida entre tantas figuras ilustres, com grandes serviços prestados ao Recife.
Nós, mulheres, somos a maioria do eleitorado e minoria em representatividade. Temos um grande desafio pela frente na equidade de gênero na política. Aqui mesmo nesta Casa, só vinte e quatro mulheres foram eleitas em toda estória do parlamento municipal do Recife.
Encerro minhas palavras enaltecendo o trabalho de cada um dos homenageados. Não há dúvida de que deixamos um legado. Não podemos abrir mão da transparência, da credibilidade, do equilíbrio, da humildade, da tolerância, da arte do diálogo.
É essencial na política a construção de pontes, exercendo a política da boa convivência. A sangre e ferro, temos que ter a solidez do que parece liquido e sem sabor. Mais do que isso, a firmeza nos princípios e propósitos, para que possamos exercer a doutrina do impossível e com ela fazermos as pessoas mais felizes.
Essa é a essência da boa política!
Parabéns a todos e muito obrigada”.