Pedro Venceslau e Gustavo Queiroz
Estadão
Após ensaiar uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda no primeiro turno e tentar marcar posição com uma candidatura própria no centro político – com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e depois com o ex-governador Eduardo Leite (PSDB-RS) –, Gilberto Kassab, presidente do PSD, se rendeu à polarização nacional.
O ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) é reconhecido pelo pragmatismo oportuno. Assim, mesmo sem conseguir o espaço que queria como aliado preferencial de Lula, intensificou recentemente conversas com o petista e já sinalizou apoio no segundo turno. Porém, antes pretende liberar a legenda – que tem a quinta maior bancada da Câmara, com 47 deputados federais – na disputa nacional.
EM CIMA DO MURO – Na prática, a posição representa também aval a Jair Bolsonaro (PL) na maioria dos diretórios estaduais, onde correligionários vão abrir palanque para o presidente.
Sem amarras no plano nacional, Kassab preferiu manter distância de todos os movimentos que tentaram criar uma frente de centro para ocupar o espaço da chamada terceira via, enquanto percorria o Brasil montando candidaturas regionais ecumênicas.
O ex-prefeito de São Paulo, que mantém relação próxima com Lula, gravou até um vídeo para o ato de 42 anos do PT, ao mesmo tempo que não desestimulou ou mesmo ainda trabalha por alianças estaduais com políticos bolsonaristas.
NEUTRALIDADE – Questionado sobre as contradições regionais, Kassab disse que o PSD caminha para a neutralidade. “É natural em um partido de centro que alguns fiquem mais à esquerda e outros à direita”, afirmou o ex-ministro ao Estadão. Já em relação às conversas com Lula, Kassab despista: “Falo sempre com Lula, há 30 anos”.
Levantamento feito pelo Estadão ilustra o atual quadro do PSD. Hoje, a legenda está abertamente no campo bolsonarista em oito estados e no Distrito Federal, ante sete na raia lulista. O exemplo mais emblemático é o Paraná, onde Ratinho Jr. é o aliado mais fiel de Bolsonaro. Para o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSD), apoiar o atual chefe do Executivo federal é uma “tendência natural” em razão do histórico “conservador” do Paraná.
“O governador (Ratinho Jr.) tem sido claro em relação ao apoio a Bolsonaro. No caso da maioria dos parlamentares, a tendência é exatamente essa”, disse Troiano. “Até porque somos um Estado altamente produtivo, do agronegócio”, afirmou. Além de comandar o governo e a presidência da Assembleia, o PSD também filiou o prefeito da capital, Rafael Greca, no final de junho.
GOVERNISMO – O PSD é governista também em Mato Grosso, Amapá, Espírito Santo, Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Rondônia e Roraima. Dono de um cofre de R$ 347,2 milhões do fundo eleitoral, Kassab articula em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, um acordo com o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome de Bolsonaro na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. O ex-prefeito de São José dos Campos Felicio Ramuth, atual pré-candidato do PSD, pode ser o vice.
Apesar de todos os sinais de que fechou com Tarcísio, Kassab ainda mantém uma ponte com o projeto eleitoral de Márcio França (PSB) – ameaçado pela aliança nacional com o PT.
“Historicamente, Kassab sempre esteve próximo ao Lula. Gostaríamos que ele estivesse conosco em São Paulo, mas esse movimento com Tarcísio não fecha portas. Nunca nos distanciamos”, disse o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e aliado do ex-presidente Lula.
JUNTO AO PETISMO – A legenda de Kassab, por sua vez, aderiu ao petista em Pernambuco, Paraíba, Bahia, Amazonas e Minas Gerais. Em Sergipe e no Rio de Janeiro, os pré-candidatos do partido já indicaram que gostariam de ter Lula no palanque. Minas Gerais, por exemplo, se tornou Estado-chave na aliança entre PSD e PT, com o lançamento da pré-candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), ao lado do ex-presidente.
Para o deputado federal Leonardo Monteiro (PT-MG), a coligação vai contribuir com os dois partidos, inclusive nas candidaturas legislativas.
“Kalil tem bastante aceitação popular na capital, e o Lula ganha folgadamente no Estado. É bom para o Lula e é ótimo para o Kalil”, afirmou.