“Civilização pode não sobreviver à guerra na Ucrânia”, diz George Soros

O bilionário húngaro-americano George Soros alertou que a “civilização pode não sobreviver” à guerra iniciada a partir da invasão da Ucrânia por tropas russas e disse que a Europa está em posição muito mais forte do que imagina contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em relação ao gás.

Em seu tradicional discurso em jantar para jornalistas às margens do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o investidor e filantropo nascido na Hungria afirmou que a guerra “abalou a Europa em sua essência”.

“A invasão pode ter sido o início da Terceira Guerra Mundial, e nossa civilização pode não sobreviver a ela”, disse Soros na noite desta terça-feira (24).

“Devemos mobilizar todos os nossos recursos para encerrar a guerra mais cedo. A melhor e talvez única maneira de preservar nossa civilização é derrotando Putin o mais rápido possível.”

Ele elogiou o apoio financeiro e militar dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) à Ucrânia, mas afirmou que a dependência europeia da energia russa “continua excessiva”.

Segundo Soros, essa dependência se deve “em grande parte às políticas mercantilistas adotadas pela ex-chanceler federal [alemã] Angela Merkel”, que fez “acordos especiais” com Moscou para o fornecimento de gás.

Em meio às ofensivas russas na Ucrânia, a UE anunciou que pretende reduzir seu uso de gás russo em dois terços neste ano, mas ainda não conseguiu aprovar um embargo às importações devido à relutância da Alemanha.

O bloco também tem lutado para chegar a um acordo sobre um banimento do petróleo, mas enfrenta oposição da Hungria.

“Acho que Putin foi muito esperto em chantagear a Europa, ameaçando cortar o gás, mas na verdade seu caso é muito menos forte do que ele finge ser”, afirmou Soros. “Ele está realmente em crise e conseguiu de alguma forma aterrorizar a Europa.”

O bilionário disse ainda que Putin fez estoque de gás no ano passado em vez de exportá-lo para a Europa, gerando uma escassez que elevou os preços e deu “muito dinheiro” à Rússia. Mas as instalações de armazenamento estarão cheias em julho, e Moscou não tem outro lugar para enviar o gás além da Europa, pois é seu único mercado, acrescentou.

Soros disse ter explicado tal situação em uma carta recente ao primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, mas ainda não recebeu uma resposta.

Putin está “em uma situação difícil. Ele tem que fazer algo com esse gás”, afirmou. “A Europa está em uma posição muito mais forte do que reconhece.”

Críticas também à China

O discurso foi feito durante o tradicional jantar promovido por Soros em Davos, um dos eventos mais aguardados pelas elites políticas e empresariais globais na cidade suíça. A última vez que ocorreu foi em janeiro de 2020, devido à pandemia de Covid-19.

Soros, fundador da Open Society Foundations, também usou o discurso deste ano para mirar novamente em outro alvo habitual, o presidente chinês, Xi Jinping.

Ele chamou Xi e Putin de “ditadores” cujos países representam “a maior ameaça à sociedade aberta”.

“Eles estão unidos em uma aliança que não tem limites. Eles também têm muito em comum. Eles governam por intimidação e, como consequência, cometem erros incompreensíveis”, disse Soros.

“Putin esperava ser recebido na Ucrânia como um libertador. Xi Jinping está aderindo a uma política de zero covid que não se sustenta”, acrescentou, referindo-se aos rígidos lockdowns da China para conter surtos do novo coronavírus.

(Com Deutsche Welle e agências internacionais)