Tyndaro Menezes, ex-chefe do núcleo de jornalismo investigativo da Globo, é alvo de investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por suspeita de envolvimento com Ângelo Ribeiro de Almeida Júnior, ex-titular da Delegacia Fazendária fluminense, denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro na compra de insumos médicos. De acordo com informações obtidas pelo colunista Lucas Pasin, do UOL, Menezes foi demitido da emissora carioca ontem.

Em trechos de conversas obtidas pelo MPRJ e incluídos em um documento que será enviado ao Ministério Público Federal, o delegado diz que Menezes deve “receber sua parte em dinheiro” apesar de “não integrar nenhuma empresa”.

Segundo apontamento do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no documento, “o envolvimento de Tyndaro Menezes com o denunciado Ângelo Ribeiro fica ainda mais evidente no e-mail enviado pelo denunciado a pessoa não identificada, onde ele expressamente afirma que iria repartir com o jornalista parcela do valor recebido”.

Tyndaro Menezes é, segundo o MPRJ, apresentado como Tyn no e-mail. “Mas precisei ser recepcionado pela outra ponta da operação, para com sorte, ficar com 1% do valor de nota de compra. Se ainda fosse de venda. Ah! E dividir com Tyn obviamente”, diz o trecho destacado no documento.

De acordo com a investigação, em curso desde 2018, há conversas por aplicativos de celulares que também deixariam clara a parceria no meio empresarial do delegado denunciado e Tyndaro Menezes. As conversas mencionam negócios com a Rede D’Or, com o ex-secretário de Saúde da gestão Sérgio Cabral (MDB), Sérgio Côrtes, preso e condenado por lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas – e o cunhado de Côrtes, Sérgio Vianna.

Ao SBT News, Tyndaro Menezes negou as acusações. O jornalista confirmou que conhece o ex-delegado e o apresentou ao empresário que forneceria os insumos hospitalares, mas negou qualquer participação em atividades ilícitas. “A tentativa do empresário e do delegado de vender produtos hospitalares nunca foi concluída. Nenhuma empresa chegou a sequer ser aberta, portanto, eu não poderia ter recebido nenhuma comissão. Não negociei valores, percentuais ou coisa do tipo. Se cometi algum erro foi ético por ter apresentado o empresário ao delegado. Não sou acusado de nada ilícito ou ilegal”, disse.

A Globo confirmou a demissão do executivo, mas argumentou que não comenta questões de compliance da empresa. “O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a Compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas”, disse a emissora em nota.