Estudo associa bactérias à risco maior de ter câncer de próstata avançado; achado pode dar pista para tratamento

Pesquisadores do Reino Unido descobriram bactérias na urina que podem estar ligadas a casos de câncer de próstata avançados. Em um estudo publicado nesta semana na “European Urology Oncology”, os cientistas mapearam bactérias encontradas no material de mais de 600 pacientes com e sem a doença.

Eles identificaram cinco bactérias – três delas até então desconhecidas da ciência – que indicavam um risco de desenvolver um câncer mais agressivo (veja detalhes sobre a doença mais abaixo).

Os homens que tinham uma ou mais espécies dessas bactérias na urina, próstata ou no tecido tumoral tinham 2,6 vezes mais chances de desenvolver uma forma avançada da doença do que aqueles que não tinham.

O estudo não determinou se a presença das bactérias aumentava o risco de câncer ou causava uma forma mais agressiva da doença, mas os cientistas suspeitam que pode haver alguma relação – como no caso da bactéria H. pylori, cuja presença no estômago aumenta o risco de desenvolver câncer no órgão.

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No caso da próstata, se a relação entre as bactérias encontradas e o câncer for confirmada, talvez seja possível desenvolver antibióticos contra os micróbios e, assim, impedir a progressão de um tumor. Mas ainda há incertezas quanto a isso.

“Há muitas complicações. Os antibióticos não penetram muito bem na próstata e você precisaria escolher um antibiótico que matasse apenas certas bactérias”, disse o cientista Colin Cooper, líder do estudo, ao jornal britânico “The Guardian”.

A cientista Hayley Luxton, de uma organização no Reino Unido que patrocinou o estudo (Prostate Cancer UK), explicou ao jornal que, hoje, não há formas confiáveis de identificar quais cânceres de próstata vão se desenvolver de forma agressiva.

“Essa pesquisa pode ajudar a garantir que os homens recebam o tratamento certo para eles”, afirmou Luxton.

“Se a equipe puder demonstrar que essas bactérias podem não apenas prever, mas realmente causar câncer de próstata agressivo, pela primeira vez podemos realmente prevenir a ocorrência do câncer de próstata. Este seria um grande avanço que poderia salvar milhares de vidas a cada ano”, disse.

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O câncer de próstata é tratável. Em alguns casos, pode crescer de forma lenta e não necessitar de tratamento – se o paciente tiver idade mais avançada, por exemplo. Na forma mais agressiva, entretanto, a doença pode avançar para outros órgãos e levar à morte.

Esse tipo de câncer é o mais comum depois do de pele em países desenvolvidos – onde também costuma ocorrer com mais frequência. A doença é responsável por 250 mil mortes em todo o mundo anualmente.

No Brasil, foi o segundo câncer mais comum entre homens em 2020 – atrás apenas dos de pele do tipo não melanoma –, responsável por 29% dos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Em 2019, foi o câncer com a segunda taxa de mortalidade mais alta entre os homens, atrás apenas dos do sistema respiratório.

A próstata é uma glândula na parte baixa do abdômen responsável por produzir parte do sêmen. O câncer que afeta o órgão costuma ocorrer na terceira idade – 75% dos casos no mundo ocorrem em homens a partir dos 65 anos.

Na fase inicial, o câncer de próstata não costuma causar sintomas – quando causa, podem ser semelhantes ao do crescimento benigno da próstata, como dificuldade de urinar ou necessidade de urinar mais vezes. Na fase avançada, a doença pode provocar dor nos ósseos, sintomas urinários, ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal.

Fonte: G1- Globo