Coluna JC Negócios

Eleito pelo PSB após uma acirrada campanha, na qual o MDB lhe tomou a legenda para a disputa, Jarbas Vasconcelos virou prefeito em 1985 numa onda que animou a cidade nas primeiras eleições diretas para o cargo desde o fim do Regime Militar de 1964.

Como forte apoio da classe artística, ao assumir, Jarbas viu que o caixa estava baixo e não havia projetos. O prefeito traçou um plano básico: manter a cidade limpa, pagar os salários em dia e criar uma agenda de eventos que animasse a cidade. Nasceu o “Recife Alto Astral”, cuja marca era um coquinho e a sombrinha de frevo.

Trinta e sete anos depois, o prefeito João Campos (PSB) parece seguir a cartilha escrita pelo atual senador do MDB para contornar a dificuldade de caixa e não deixar sua administração cair num clima de baixo astral.

O projeto “Viva a Guararapes”, que a Prefeitura do Recife está fazendo, com atividades culturais, esportivas e gastronômicas gratuitas, numa releitura de uma das avenidas mais tradicionais e importantes como eixo viário do Centro, principalmente para o transporte público por ônibus, vai na mesma direção.

Jarbas transformou a Rua do Bom Jesus num centro de lazer e cultura, estimulou a abertura de bares e restaurantes, enquanto no Carnaval começou a trazer artistas nacionais como convidados para os desfiles do Galo da Madrugada. Foi após vir conhecer o Galo, a convite de Jarbas, que Fafá de Belém começou a se tornar cidadã de Pernambuco.

Jarbas também criou um padrão de cobrança de seus auxiliares que João Campos bem que poderia adotar. Visitar as poucas obras que a Prefeitura contratava, bem cedo, chegando nos canteiros de obra de surpresa e conferindo a realização dos serviços. Era o terror dos empreiteiros, que tinham que correr para chegar nas obras antes de o prefeito ir visitar outras.

O ex-prefeito e ex-governador costuma dizer que quando o gestor não tem verbas para obras de impacto, tem que estar na rua conversando com as pessoas e fazendo o básico, como cuidar da limpeza e iluminação da cidade.

O Recife Alto Astral ganhou a mídia nacional e Jarbas também foi cuidar de outra face da cidade, a limpeza urbana, que as administrações do PT e mesmo a de Geraldo Julio, não conseguiram se diferenciar.

Nascida em 1993, o Recife Alto Astral foi uma tentativa de recuperar a “autoestima” do recifense, durante a gestão de Jarbas. O coquinho verde sorrindo era a principal peça publicitária, idealizada pelo sociólogo Antônio Lavareda.

Nesse aspecto, João Campos tem feito a mesma coisa com a secretária de Infraestrutura, Marilia Dantas, tentando melhorar a coleta e fazendo coisas básicas que impactam, como pintar as pontes e pontilhões e criar um programa mais robustos de limpeza dos 67 canais da cidade.

O Viva Guararapes tem atrações e atividades nos polos Esportivo, Infantil, Pet, Social, Exposições, Geek, Literário, Cultural, Gastronômico, de Economia Criativa e Circense. Além dos polos, a prefeitura aproveitou para vacinar a população contra a covid-19, sem necessidade de agendamento, e agendou a castração dos animais de estimação.

Jarbas, com ajuda do secretário Carlos Eduardo – Cadoca, criou o Recifolia, na onda nacional do Carnaval fora de época que se espalhou pelo Brasil. O prefeito também cuidou de ir pessoalmente verificar a limpeza da orla de Boa Viagem, depois da noite de folia na orla.

No segundo mandato na capital, Jarbas atingiu índices altos de aprovação. Em 1996, último ano da gestão, o ranking do Datafolha o colocava como melhor prefeito do Brasil por meses seguidos. João Campos pensa em criar festivais e novas atrações culturais no Boulevard da Avenida Rio Branco, enquanto luta para arranjar dinheiro para obras mais estruturadoras. Faz sentido. Se quiser se afirmar, precisa fazer o básico e animar sua cidade.